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Sem Dilma, Maduro pode ficar ainda mais enfraquecido no Mercosul

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BUENOS AIRES – No curto e médio prazos, o principal impacto regional da saída da presidente Dilma Rousseff e do PT será o enfraquecimento do já debilitado governo do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, às voltas com fortes pressões da oposição para aprovar no Conselho Nacional Eleitoral (CNE) a realização de um referendo sobre a continuidade de seu mandato, que termina em 2019. Segundo analistas latino-americanos, sem o respaldo do governo brasileiro — o que a Venezuela deverá perder com a Presidência de Michel Temer — Maduro terá mais dificuldades para enfrentar a ofensiva opositora em seu país e, paralelamente, os questionamentos por parte da Argentina no Mercosul.

Com o fim do governo do PT, opinou Regina Soares de Lima, pesquisadora sênior do Iesp-Uerj, “Venezuela, Equador e Bolívia formarão um trio que se isolará do resto da região”.

— Já estamos vivendo um retrocesso em relação à política externa de integração latino-americana liderada pelo ex-presidente Lula — opina Regina.

Para a pesquisadora, a Argentina governada pelo presidente Mauricio Macri vai redobrar as pressões contra a Venezuela dentro do Mercosul e buscará, para isso, o apoio de Temer.

— Vai predominar a agenda de política externa do PSDB, que sabemos que defende a flexibilização do Mercosul e critica o apoio aos bolivarianos — diz.

Semana passada, Macri acusou a Venezuela de não cumprir acordos do Mercosul, o que pode promover a suspensão do país por não ter incorporado a normativa do bloco. Segundo fontes do governo argentino, a Venezuela não internalizou normas econômicas básicas do Mercosul.

— Não está claro se a Venezuela está dentro ou fora do bloco — declarou o presidente argentino, que chegou a pedir que Maduro “abra as portas do diálogo para iniciar um período de transição”.

Com Temer, o chefe de Estado argentino poderia ter um aliado para apertar o cerco a Maduro. Macri conta com apoio do governo paraguaio, e o Uruguai se uniria aos demais do bloco. Já para o presidente da Bolívia, Evo Morales, que em fevereiro sofreu revés com a derrota no referendo sobre a reeleição indefinida, a mudança de governo no Brasil é má notícia, diz Carlos Cordero, professor da Universidade Maior de San Andrés, em La Paz:

— Nos próximos anos, Morales terá que renegociar contratos de gás, e com Dilma seria mais fácil.

O professor lembrou que Morales está mergulhando em conflitos internos “por denúncias de tráfico de influência que deterioraram muito sua imagem”:

— Morales é um líder cada vez mais solitário dentro da Bolívia e agora terá apenas alianças com Equador e Venezuela.

Já o argentino Rosendo Fraga, diretor do Centro de Estudos Nova Maioria, acredita que “os grandes perdedores regionais com o impeachment de Dilma são Venezuela, Equador e Bolívia, os últimos populistas que ainda existem no continente”:

— Os demais governos latino-americanos terão adaptação fácil ao novo cenário brasileiro.


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