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Quadro de incertezas deve continuar, dizem analistas estrangeiros

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WASHINGTON — A autorização da Câmara para abertura do processo de impeachment de Dilma Rousseff foi analisada por brasilianistas. Peter Hakim, presidente emérito do Inter-American Dialogue, ainda tem muitas dúvidas sobre o impacto da votação. Em sua opinião, as incertezas vão continuar, principalmente se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva for de fato às ruas, como vem afirmando.

— Precisamos lembrar que as pesquisas apontam que Temer é rejeitado por cerca de 60% da população, praticamente o mesmo patamar que defendia o impeachment de Dilma — disse ele, que vê a necessidade de uma guinada econômica para a solução do país: — O problema político chegou a essa dimensão devido à crise econômica, à recessão, ao desemprego, à inflação. É preciso criar um ambiente propício para encarar os problemas econômicos.

Hakim afirma, contudo, que os impactos no partido governista são muito grandes.

— Embora Lula tenha prometido não sair das ruas, o PT está muito machucado, muito fragilizado por todo esse processo — afirmou.

PROTEÇÃO A TEMER

Anthony W. Pereira, diretor do Instituto Brasil, do King’s College, em Londres, afirmou ao GLOBO que acha importante que o Brasil comece a responsabilizar seus políticos por “pedaladas” e crimes fiscais, mas teme que o Congresso adote um padrão mais condescendente com Michel Temer.

— Os deputados manifestaram muita esperança no impeachment de Dilma, que será um recomeço, mas não tenho certeza de que isso vai acontecer. — diz ele, que vê o país dividido e com turbulências até as Olimpíadas. — Estou certo de que muitas pessoas no Congresso gostariam de abrandar e desviar as investigações da Lava-Jato.

Harold Trinkunas, diretor de América Latina do Brookings Institution, vê problemas com Dilma ou com Temer:

— Será difícil para um ou outro ter o capital político necessário para levar a cabo as reformas tão necessárias às políticas econômicas e sociais.

Trinkunas afirmou que, dentro do peso político que há em todo o processo de impeachment em diversos países do mundo, o processo contra Dilma tem um ritmo normal, “seguindo as regras”, reforçando a avaliação entre os americanos de que o caso transcorre sem golpe.

— Para a região, o impacto tende a ser maior entre os parceiros do Brasil no Mercosul, uma vez que a crise econômica tende a continuar com a instabilidade política que impede uma ação decisiva para repor o Brasil numa rota de crescimento sustentável — disse.

DEPUTADOS NÃO ESCAPAM DE ANÁLISES

Os principais meios de comunicação dos Estados Unidos noticiaram a votação do impeachment relacionando a crise política à proximidade das Olimpíadas do Rio, em agosto, e à epidemia do vírus zika, além da crise econômica. Tratando em tom de normalidade a destituição da presidente, sem citar o processo como um golpe, os jornais americanos alertaram que o país segue dividido e que a saída de Dilma Rousseff do Palácio do Planalto não resolverá os problemas no país.

John Kirby, porta-voz do Departamento de Estado americano, afirmou ontem que os Estados Unidos estão “acompanhando de perto” a situação política do país:

— Estamos confiantes que os brasileiros enfrentarão estas questões políticas de forma democrática e de acordo com os princípios constitucionais.

Grandes jornais destacaram a votação do impeachment em suas capas e seus portais, lembrando que o cenário político brasileiro continua radicalizado e que muitos dos deputados que votaram pelo afastamento da presidente são acusados de corrupção. O “New York Times” lembrou que alguns analistas políticos brasileiros temem que o movimento para destituir Dilma possa causar danos à “jovem democracia do Brasil”. O “Washington Post”, que relacionou em sua capa a crise política à proximidade dos Jogos do Rio e à epidemia de zika, afirmou que a derrota de domingo foi muito forte para o governo e para o PT. E afirmou que a conjunção de problemas justifica o impeachment mais que as “pedaladas fiscais”, objeto do processo.

O inglês “The Guardian” citou o líder do PT na Câmara, José Guimarães, afirmando que a luta será agora “na Justiça, nas ruas e no Senado”, indicando que a polarização política no Brasil continuará. O espanhol “El País” lembrou que toda a votação foi conduzida por Eduardo Cunha, “o deputado evangélico acusado de ter várias contas na Suíça com recursos desviados da Petrobras”, “um sintoma da estatura moral de boa parte do Congresso brasileiro.”


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