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Presidente do Peru depõe em caso relacionado à Lava Jato

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SÃO PAULO – O presidente do Peru, Ollanta Humala, depôs por 12 horas nesta segunda-feira ao Ministério Público de seu país sobre anotações em agendas de sua esposa, Nadine Heredia, que podem indicar vínculos com o esquema de corrupção investigado no Brasil pela Lava-Jato, informou a agência “Efe”. O Ministério Público do Peru compartilha informações com a Força-tarefa da Lava-Jato no Brasil e investiga suspeitas de que empreiteiras brasileiras tenham pago propina para agentes públicos peruanos para fazer obras no país.

O Congresso peruano também criou uma comissão, que vem sendo chamada de “Comissão Lava-Jato”, para apurar se empreiteiras brasileiras pagaram subornos no país durante os três últimos governos. A comissão determinou a quebra de sigilo bancário de mais de 400 pessoas físicas e jurídicas, entre elas Nadine, que preside o Partido Nacionalista; os ex-presidentes Alan García (2006 a 2011) e Alejandro Toledo (2001 a 2006) ; e o ex-primeiro ministro e atual candidato a presidente do país Pedro Pablo Kuczynski.

Segundo o jornal peruano El Comércio, o Ministério Público do Peru suspeita que contribuições às campanhas do Partido Nacionalista, em 2006 e 2011, possam ter origem ilícita. As suspeitas aumentaram depois da apreensão pela Polícia Federal brasileira de uma planilha onde constam pagamentos de UD$ 3 milhões vinculados ao “Projeto OH”. Para os investigadores, a sigla refere-se às iniciais do presidente do Peru. Pelo twitter, o governo peruano havia rechaçado as informações.

Ao depor ontem ao procurador Germán Juarez Atoche, Humala afirmou que desconhece o que significa “Projeto OH”, mencionado também num email de Fernando Migliaccio, ex-funcionário da Odebrecht preso em um banco em Genebra, na Suíça, ao tentar esvaziar um cofre e movimentar contas. A Odebrecht é uma das empreiteiras brasileiras que participou da Rodovia Interoceânica, uma das obras sob suspeita.

Humala disse ainda não foi favorecido por nenhuma das construtoras brasileiras com obras no Peru e que era o único responsável pelo dinheiro que ingressava no Partido Nacionalista, que presidiu por oito anos. Nadine, segundo ele, era encarregada apenas de assuntos externos.

Os investigadores acreditam que Humala tenta mitigar possíveis acusações contra Nadine. Na próxima semana, Atoche deve decidir se arquiva o caso ou acusa Nadine Heredia por lavagem de dinheiro. Humala não pode ser denunciado – como presidente, tem imunidade.

O advogado de Nadine Heredia acompanhou o depoimento do presidente peruano. Nesta quarta-feira, a comissão do Congresso também discute as anotações encontradas na agenda de Nadine. Segundo o El Comércio, que teve acesso ao documento, as anotações sugerem indícios de lavagem de dinheiro e envolvem também parentes de Humala, como um cunhado, a sogra e a irmã, além do ex-primeiro ministro Salomón Lerner Ghitis e a ONG Prodin, entre otros.

Suspeitas em obras da OAS e Camargo Corrêa

Segundo o jornal “El Comercio”, há suspeitas de pagamento de propina também no projeto hidroenergético do Alto Piura, outorgado à Construtora Camargo Corrêa em 2010. César Lara, que governa a região de Piura, deverá depor ao parlamento sobre a obra. Até agora, segundo a Comissão, apenas 24% da infraestrutura ficou pronta. A Camargo Corrêa recorreu à arbitragem contra o governo regional por divergência de valores.

No Brasil, dois delatores da Lava-Jato, Leandro e Roberto Trombeta, que podem perder o acordo de colaboração por terem omitido informações, usaram o escritório da Mossack Fonseca no Brasil para abrir offshores que foram usadas pela OAS para pagar propinas provenientes de obras no Peru e Equador.

A dupla havia dito em depoimento que subsidiárias da OAS no Peru e no Equador repassaram mais de US$ 15 milhões para pagamento de propina. O esquema era feito através de contratos fictícios. Do valor depositado no exterior, cerca de US$ 8 milhões foram, por ordem da OAS, destinados a uma conta indicada pelo doleiro Alberto Youssef na Suíça.

Segundo Trombeta, a OAS Peru repassou US$ 6,15 milhões à Constructora Andreu, do Chile, por meio de contratos de serviços fictícios. A empresa chilena, por sua vez, repassou US$ 5,76 milhões para uma empresa espanhola, a DSC Workshop ObrasConstrucciones e Promociones. O dinheiro teria transitado por offshores holandesas até chegar à conta da Kingsfield aberta no Banco BPA, em Andorra, entre novembro de 2012 e fevereiro de 2013.

A OAS Equador destinou US$ 9,15 milhões a uma empresa de fachada, segundo os delatores. O dinheiro passou pela Espanha, por offshores holandesas e desembocou na mesma conta do Banco BPA, entre setembro e outubro de 2012. Roberto afirmou que, além do dinheiro que foi parar na Suíça, cerca de US$ 7 milhões permaneceram na conta do banco BPA. O esquema dos irmãos Trombeta também está sendo investigado por autoridades peruanas.

Rodrigo Cruz – “El Comercio”/GDA*

*O jornal peruano “El Comercio” integra o Grupo de Diarios América (GDA), do qual O GLOBO faz parte.


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