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Presidente do Conselho de Ética cancela sessão que votaria relatório sobre Cunha

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BRASÍLIA — O presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PR-BA), cancelou a sessão de quarta-feira que poderia votar o relatório que pede a cassação do mandato do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afastado do mandato por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Embora não esteja descartada a votação na quinta, o mais provável é que ela aconteça na terça-feira da próxima semana. Ao final de um dia de intensas articulações dos aliados de Cunha, opositores de Cunha já davam como certo o voto de Tia Eron (PRB-BA) para salvar o presidente afastado, com 11 votos contra e 9 a favor do relatório de Marcos Rogério (DEM-RO).

A intenção dos opositores de Cunha é ganhar tempo para que haja pressão da imprensa e dos eleitores de Tia Eron pró-cassação. Araújo usou como desculpa a necessidade de manter as votações de matérias importantes para o governo, como a DRU (Desvinculação de Receitas da União), no dia de amanhã, para adiar a votação.

— Vamos votar as matérias para salvar o país — justificou Araújo.

Nos bastidores, os opositores de Cunha acreditam que a pressão de aliados de Cunha e da cúpula do PRB surtiu efeito sobre ela:

— Quando a Tia Eron divulgou nota para dizer que vota amanhã (quarta) e Cunha pressiona para que a votação aconteça logo, não temos mais dúvidas de que ela fechou com ele — afirmou um dos opositores de Cunha.

No início da tarde, a votação já tinha sido adiada porque não havia certeza de que Tia Eron compareceria à votação. Araújo encerrou a sessão garantindo prazo para que o relator do processo, Marcos Rogério (DEM-RO) analise a pena alternativa apresentada pelo deputado João Carlos Bacelar (PR-BA), de suspensão do exercício do mandato por três meses.

Aliados de Cunha protestaram, mas Araújo não recuou. Em nota, Cunha criticou o que considerou “manobra espúria” de Araújo para evitar a votação do parecer que pede sua cassação. Se tia Eron não comparecesse, abriria caminho o voto deputado Carlos Marun (PMDB-MS), que é suplente do bloco de partidos a que ela pertence e foi o primeiro a registrar presença. Marun é da tropa de choque de Cunha e contra a cassação. Ontem, depois que Araújo anunciou em plenário o adiamento da votação no conselho, Marun ameaçou ir ao Supremo Tribunal Federal contra a interrupção do processo.

Tia vem sendo muito pressionada por aliados de Cunha e pela cúpula de seu partido. Os opositores suspeitam da existência de um acordo entre o PRB e o governo Temer para salvar o peemedebista. A reunião de anteontem do ministro Marcos Pereira (Indústria e Comércio), do PRB, no Palácio do Planalto, foi considerada um indicativo disso. O líder do PSOL, Ivan Valente (SP), suspeita que Cunha possa estar ameaçando pessoas do governo e o próprio Temer de revelar o que sabe:

— Minha opinião é que Cunha está ameaçando derrubar o Temer e o governo. Ele é a maior delação que pode acontecer, se vier. O Cunha tem um banco de dados de quem financiou, é uma ameaça permanente.

Com a ata da reunião em mãos, o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil), admitiu o encontro com Pereira (Indústria e Comércio), mas afirmou que o ministro esteve anteontem em seu gabinete, às 16h30m, para tratar de uma briga por cargos entre ele e o ministro José Serra (Relações Exteriores).

Padilha e a assessoria de Michel Temer negam que tenha ocorrido um encontro entre o presidente interino e Pereira para tratar do voto da deputada Tia Eron (PRB-BA).

Marcos Pereira iria para São Paulo nesta terça, participar na manhã de quarta, junto com o primeiro-secretário da Câmara, Beto Mansur (PRB-SP), participar do 27* Congresso Brasileiro do Aço, mas cancelou sua ida. Durante a sessão, deputados da base aliada de Temer fizeram o alerta para o risco que o apoio de deputados da base aliada pode trazer para o governo.

— Quero lamentar aqui a posição da base aliada do governo Temer de ficar contra o parecer pela perda do mandato. Vai colocar mais uma bomba no colo do governo — disse o deputado Nelson Marchezan Júnior (PSDB-RS).

Último a discursar, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), afirmou que o processo contra Cunha não termina no Conselho de Ética. Segundo ele, a batalha será no plenário da Casa.

— Se a gente não tirar essa laranja podre hoje, estaremos todos contaminados. Não adianta diluir. Fica com gosto de azedo. Mas esse processo não termina aqui. O Conselho faz uma recomendação, mas quem decide é o plenário — provocou Delgado, que lamentou o fato de os aliados de Cunha sequer considerarem os últimos acontecimentos:

— Teve o depoimento da mulher e da filha dele dizendo que é o Cunha que abastece a conta no exterior. A delação do Cerveró e hoje (ontem) o pedido de prisão de Cunha pelo Janot. Mas muitos parecem surdos por aqui.

Nesta terça-feira, a grande maioria dos deputados do conselho que falou defendeu a cassação de Cunha. Apenas quatro conselheiros defenderam Cunha, sendo que um deles foi o suplente Marun. Os deputados Fufuca (PP-MA) e Wellington Roberto (PR-PB) estavam inscritos, mas não falaram. O deputado Sérgio Moraes (PTB-RS), que foi afastado da relatoria do processo de cassação do mandato de Edmar Moreira por ter afirmado que estava pouco se “lixando” para a opinião pública, voltou a dizer que não está no conselho para apoiar “discurso fácil” e agradar os que cobram a punição de Cunha.

— Estamos aqui para julgar com base em provas, não podemos nos deixar levar pelos ventos. A Polícia Federal esteve três vezes procurando provas. Se foi três vezes, é porque não achou. O Supremo criou um fato novo. Suspendeu o presidente do mandato e da Casa. Sabe por quê? Porque não tem provas, se não teria metido na cadeia. O discurso de jogar para a torcida, para a plateia, não me anima não. Voto em cima de fatos e não vi absolutamente nada pelo fato de ter mentido. Alguns falam em suspensão, mas para quê? Agradar? Aqui é oito ou oitenta — Moraes.


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