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Políticos são topo da cadeia alimentar da propina, diz procurador

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SÃO PAULO. A conexão entre as diversas operações anticorrupção realizadas no Brasil mostram que os políticos estão no “topo da cadeia alimentar da propina” e a corrupção está alastrada de tal forma pelo país que é preciso a formação de uma “grande rede de combate à corrupção”, defendeu nesta segunda-feira o procurador Roberson Pozzobon, ao falar sobre a 31ª Fase da Lava-Jato, realizada nesta segunda-feira pela Polícia Federal. Além da corrupção de agentes públicos e políticos, pela primeira vez a Lava-Jato mostrou a corrupção privada, com o pagamento de R$ 18 milhões à construtora W Torre para que ela saísse da disputa e permitisse que o cartel, reunido no consórcio Novo Cenpes, assumisse a obra do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes).

Pozzobon afirmou que as quatro últimas grandes operações contra a corrupção que ocorreram no último mês mostram a conexão com os crimes investigados na Lava-Jato e a corrupção de agentes políticos.

– Em todas as operações o destinatário final eram agentes políticos. Eles estão no topo da cadeia alimentar da propina. O povo brasileiro não aguenta mais que eles flertem, namorem e casem com a corrupção. Precisamos que a crise política e a impunidade sejam enfrentadas, com reforma política e medidas contra a corrupção – disse.

O procurador afirmou que a corrupção está alastrada de tal forma no Brasil que não há mais como enfrentar o crime organizado de maneira desorganizada. Segundo ele, os órgãos envolvidos no combate à corrupção e a sociedade precisam formar uma grande rede de combate à corrupção, com uma malha próxima e forte o suficiente para que a “grande corrupção” não possa rompê-la.

Nos últimos 30 dias foram desencadeadas quatro novas operações contra a corrupção no Brasil que não foram deflagradas pela força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba, onde nasceu a investigação, mas estão interligadas a elas. A Operação Turbulência, deflagrada em Pernambuco, que investiga propinas nas obras do Rio São Francisco, usou informações do doleiro Alberto Youssef, que é delator da Lava-Jato, e uma das empreiteiras investigadas é a OAS, cujos dirigentes já foram condenados por fraudes na Petrobras.

Em São Paulo, a Operação Custo Brasil, que levou à prisão o ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira e o ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo, este último já libertado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), teve as investigações iniciadas na Lava-Jato, na 18ª Fase, quando o ex-vereador do PT e operador de propina Roberto Romano foi preso. Romano se tornou delator e ajudou a Polícia Federal e o Ministério Público Federal a identificarem provas.

No Rio, a Operação Saqueador, que investiga irregularidades da Delta Engenharia, teve como um dos operadores Adir Assad, que já foi condenado na Lava-Jato e também serviu para lavar dinheiro de propina das obras do Cenpes. As provas foram compartilhadas.

Em Goiás, a operação Tabela Periódica, que envolve crimes relacionados a obras da Valec, ocorreu com base em provas cedidas pela Camargo Corrêa, empreiteira flagrada na Lava-Jato e que assinou acordo de leniência.

Pozzobon afirmou que os acordos de delação e leniência são imprescindíveis para continuidade do combate à corrupção.

– A quem interessa o desmonte do instituto dos acordos? A quem investiga ou a quem é investigado por meio destes acordos? – indagou.


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