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Planalto não vê desgaste se Lula aceitar virar ministro

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BRASÍLIA – A tese de que Lula ministro significa uma fuga do ex-presidente das investigações da Lava-Jato não preocupa o Planalto. O governo também rechaça que Dilma viraria uma “rainha da Inglaterra”, isto é, nega que ela passaria as rédeas do governo a Lula. Esse seria o “menor dos problemas”, segundo um interlocutor da presidente Dilma Rousseff. Com esse cenário, cabe só a Luiz Inácio Lula da Silva ser um ministro do Palácio, ou seja, Casa Civil ou Secretaria de Governo.

A avaliação no Planalto é que Lula já sofreu um “ataque frontal” ao ser conduzido coercitivamente pela Polícia Federal na última sexta e conseguiu, se não reverter, dividir a opinião pública sobre a necessidade ser levado à força pelos agentes. Os governistas apostam que, uma vez ministro, Lula terá a mesma habilidade para explicar as razões que o fizeram a aceitar o cargo. Uma delas: a denúncia do Ministério Público de São Paulo, ontem, com um procurador à frente que já antecipou seu juízo sobre a responsabilidade do ex-presidente no caso do Tríplex. O Palácio entende que Lula sabe sair de situações adversas.

— O ataque já é frontal, e Lula estaria se protegendo de uma arbitrariedade. Haverá essa crítica de que está buscando foro privilegiado, mas em pouco tempo ele é capaz de mostrar que foi a única saída para se proteger da perseguição que sofre — disse o interlocutor.

No governo, há expectativa de que Lula integre o ministério e a análise de que as críticas se dissiparão com o tempo. Na esperança de que ele venha a recompor as relações políticas, a médio prazo, auxiliares presidenciais avaliam que acabará ajudando mais do que sendo um catalizador de problemas. Um argumento contra Lula aceitar o cargo: poderá parecer uma provocação ao juiz Sérgio Moro que, por sua vez, acabará mirando na ex-primeira dama Marisa Letícia e nos filhos do casal.

A governabilidade que o ex-presidente traria consigo também é um trunfo, especialmente com seu trânsito no PMDB. Segundo interlocutores, Dilma já demonstrou em cinco anos de governo que seu perfil não permitiria que ela se omitisse de governar. A ideia de uma presidente “decorativa” ou “rainha da Inglaterra” é atribuída por assessores aos que querem dificultar a vinda de Lula.

— Com a personalidade que tem, Dilma não se enquadra e nem aceitar esse papel. Imagina! E até pela relação dos dois.

Desde quinta-feira passada, quando trechos da delação do ex-líder do governo no Senado Delcídio Amaral (PT-MS) vieram à tona, o governo coleciona reveses. Condução coercitiva de Lula, prisão preventiva do marqueteiro João Santana, negativa do Supremo Tribunal Federal (STF) quanto à posse do novo ministro da Justiça, ameaças de desembarque do PMDB e protestos pró-impeachment no próximo domingo – previstos pelo governo como “muito significativos”.

Dilma ficará em Brasília no domingo, como de costume. Causaram mal-estar no governo as declarações do secretário de Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes, que estimou um milhão de pessoas protestando pelo impeachment na capital do estado.

— É um absurdo que um secretário fale uma coisa dessas. Um milhão é impossível. Não está no nosso radar — disse um auxiliar da presidente.

Quanto às ameaças do PMDB de desembarcar do governo, pelo menos “liberando” parlamentares de fidelidade a pautas do governo, é vista no Planalto como um “esquenta” para as manifestações do dia 13.

MINISTRO DA JUSTIÇA

Quanto à anulação pelo STF da indicação de Wellington César de Lima e Silva para ministro da Justiça, Dilma aguarda uma definição. Se renunciará à carreira no Ministério Público para assumir a pasta ou se recusará a indicação. Era prevista uma conversa entre os dois na manhã desta quinta-feira, mas o Planalto preferiu dar um tempo para Lima e Silva pensar.

Na cotação de nomes, se Wellington descartar ser ministro, ganham peso o ex-ministro do STJ Gilson Dipp – que chegou a advogar para Delcidio do Amaral – e do jurista Pedro Dallari, que presidiu a Comissão Nacional da Verdade. O nome do deputado Paulo Teixeira (PT-SP) é defendido por parte da bancada, mas não é unanimidade no governo. O parlamentar Wadih Damous (PT-RJ) é carta fora do baralho.


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