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PF suspeita que Odebrecht tinha ‘diretoria de propina’ para pagar a agentes públicos

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BRASÍLIA e SÃO PAULO — Com a nova fase da Operação Lava-Jato, batizada de “Xepa”, o Ministério Público e a Polícia Federal deverão bater às portas de governos estaduais e prefeituras que fizeram contratos para execução de obras com a Odebrecht. Informações obtidas até o momento indicam que a empreiteira tinha um estrutura organizada para a distribuição de propina para obter obras não só no governo federal como também nos governos estaduais e prefeituras. O “Setor de Operações Estruturadas” funcionava como uma “diretoria de propina”, de acordo com um dos investigadores.

— Essa operação abre outras frentes. A Odebrecht tinha um setor específico para pagar propina. A tendência é que essas buscas de hoje indiquem outros agentes públicos envolvidos com a corrupção — disse uma das autoridades da Lava-Jato.

Caso se confirmem as suspeitas de pagamentos de propina para execução de obras para representantes de governos estaduais e prefeituras, as investigações podem ser desmembradas e remetidas para o Ministério Públicos nos estados.

Os investigadores obtiveram indícios também de que representantes da Odebrecht fizeram pagamentos de propina até novembro do ano passado, quando o presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, e outros executivos desta e de outras empreiteiras já estavam presos em Curitiba sob a acusação de corrupção e outros crimes relacionados a desvios de dinheiro na Petrobras. Seriam pagamentos ilegais de valores que variam de R$ 500 mil a R$ 2 milhões. Estes pagamentos estariam vinculados a liberação de determinadas obras.

— O que mais impressiona é que esses pagamentos ocorreram até o segundo semestre de 2015. Um absurdo — disse um investigador.

As revelações foram feitas pela ex-secretária da empresa Maria Lúcia Tavares, que foi presa durante da 23ª fase da Lava-Jato e assinou acordo de colaboração com a força-tarefa. Ela revelou que o esquema dentro da Odebrecht era comandado diretamente pelo presidente afastado da holding, Marcelo Odebrecht, preso desde junho do ano passado em Curitiba e já condenado a 19 anos e quatro meses de prisão.

Abaixo dele, três executivos eram responsáveis pelo “Setor de Projetos Estruturados”: Hilberto Mascarenhas Alves Silva Filho, Luiz Eduardo da Rocha Soares e Fernando Migliaccio da Silva. O “Setor de Projetos Estruturados”, para a força-tarefa da Operação Lava-Jato, funcionou como um “diretoria de propina” dentro da Odebrecht. Eles criaram uma rede de “prestadores de serviços” para disponibilizar dinheiro em espécie para a entrega aos beneficiários finais. O sistema, chamado de Drousy, contava com um programa de informática próprio fora da rede de Odebrecht que foi apagado no final do ano passado após a primeira operação contra o grupo.

Em depoimento à PF, Maria Lúcia Tavares explicou que o sistema secreto de controle de propina era como uma espécie de e-mail onde os operadores podiam conversar com os demais integrantes da equipe e também com os prestadores, pessoas encarregadas da disponibilização de recursos em espécie para entrega.

— Era uma verdadeira “diretoria de propina”. O esquema tinha hierarquia e estava subordinado ao presidente da holding, Marcelo Odebrecht — afirmou.

Para um investigador ouvido pelo GLOBO, a Odebrecht tinha uma estrutura própria para pagamento de propina, que funcionaria como uma espécie de “anti-compliance”. Ao invés de combater a corrupção, como acontece em alguns bancos e empresas, a estrutura vinculada à Odebrecht teria como objetivo manter em segredo o pagamento de propina para agentes públicos. Investigadores se disseram impressionados com o grau de organização do setor e acham que a Lava-Jato descobriu um novo nicho de fraudes.


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