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PF deflagra 26ª fase da Lava-Jato e tem Odebrecht como alvo

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SÃO PAULO – A Polícia Federal deflagra na manhã desta terça-feira a 26ª fase da Operação Lava-Jato cumprindo mandados em nove estados contra mais de 40 pessoas ligadas direta e indiretamente a construtora Odebrecht. De acordo com os investigadores, é o maior esquema e mais sofisticado esquema de propina já encontrado na Lava-Jato até aqui. A empreiteira tinha um setor exclusivo para controlar o pagamento de vantagens indevidas.

— Sem dúvida a maior operação de propina que nós encontramos e a mais sofisticada. Essa sistemática de implantação de um sistema exclusivo para isso dentro da estrutura formal de uma empresa nós ainda não tínhamos encontrado — disse a procuradora da República Laura Gonçalves Tessler.

Este é o desdobramento da 23ª fase da Lava Jato, que levou para trás das grades o marqueteiro do PT João Santana e sua mulher e sócia, Monica Moura. A nova fase foi batizada de “Xepa”.

Cerca de 380 Policiais Federais cumprem 110 ordens judiciais, sendo 67 mandados de busca e apreensão, 28 mandados de condução coercitiva, 9 mandados de prisão temporária e 04 mandados de prisão preventiva.

No Rio de Janeiro, a PF apreendeu documentos no edifício Centro Empresarial Mourisco, em Botafogo. Segundo um funcionário do edifício, o mandado foi cumprido na empresa Regus, multinacional que oferece espaços de trabalho e escritórios prontos em centros empresariais. A PF não confirmou se a Odebrecht aluga salas comerciais da empresa.

Os trabalhos têm em vista, segundo a polícia, que em decorrência da análise de parte do material apreendido, descortinou-se um esquema de contabilidade paralela no âmbito do Grupo Odebrecht destinado ao pagamento de vantagens indevidas a terceiros, vários deles com vínculos diretos ou indiretos com o poder público em todas as esferas.

Segundo a PF, as planilhas encontradas na casa da secretária Maria Lúcia Tavares mostram fragmentos da operação financeira de pagamento de vantagens ilícitas, já que muitas provas foram destruídas pela Odebrecht durante a investigação.

— Foi apurado que um sistema que eles utilizavam para uma comunicação blindada entre eles e os operadores financeiros, esse sistema foi desmontado — complementou a delegada Renata da Silva Rodrigues.

Segundo a PF, em decorrência das buscas e apreensões e de outras diligências realizadas após a deflagração da 23ª fase da Operação Lava Jato, colheram-se indícios de que foi instalado dentro da estrutura do Grupo Odebrecht um setor profissionalmente organizado que era utilizado para pagamentos que incluíam vantagens indevidas a servidores públicos em razão de contratos firmados pela Odebrecht, chamado “setor de operações estruturadas”. Apurou-se que as tratativas acerca dos pagamentos de vantagens indevidas se estenderam até, pelo menos, novembro de 2015, conforme comprovado por troca de e-mails entre os investigados.

De acordo com as evidências surgidas, este setor tinha dentre suas missões viabilizar, mediante “pagamentos paralelos”, atividades ilícitas realizadas em favor da empresa. Para operacionalizar o esquema ilícito, foi instalado dentro do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht um sistema informatizado próprio, utilizado para armazenar os dados referentes ao processamento de pagamentos ilícitos e para permitir a comunicação reservada entre os executivos e funcionários envolvidos nas tarefas ilícitas. Além disso, para viabilizar a comunicação secreta entre executivos, funcionários da Odebrecht e doleiros responsáveis por movimentar os recursos espúrios, utilizava-se outro programa, em que todos se comunicavam por meio de codinomes.

A partir da análise de e-mails e planilhas apreendidas, a investigação apurou que pelo menos 14 executivos de outros setores do Grupo Odebrecht, que demandavam “pagamentos paralelos”, encaminhavam aos funcionários as diversas solicitações de pagamentos ilícitos, de forma que a contabilidade paralela e a entrega desses valores ficassem centralizados nesta estrutura específica. A PF diz que essas evidências abrem uma nova linha de apuração de pagamento de propinas em função de variadas obras públicas.

Além disso, a partir das planilhas obtidas e das anotações contidas no celular de Marcelo Odebrecht, obtiveram-se mais evidências contundentes de que este, então presidente da Odebrecht, não apenas tinha conhecimento e anuía com os pagamentos ilícitos, mas também comandava diretamente o pagamento de algumas vantagens indevidas, como, por exemplo, as repassadas aos publicitários e também investigados Monica Moura e João Santana.

Os investigados responderão pelos crimes de corrupção, evasão de divisas, organização criminosa e lavagem de ativos. Quem foi preso nesta terça-feira, serão levados a Curitiba. Os conduzidos coercitivamente serão ouvidos em suas respectivas cidades.

A PF fez operação em um hotel em Brasília onde estava hospedado o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com os investigadores, a ação no local não tem nada haver com o petista. No hotel, de acordo com a Lava-Jato, havia imóveis ligados aos envolvidos da 26ª fase.

— Só para esclarecer: essa é uma das duas maiores fases da Lava -Jato, já estava prevista há alguns dias. Não tinha como prever que Lula estaria hospedado lá esta noite. Nenhuma relação com ele — afirmou o delegado Igor Romário de Paula.

OUTRO LADO

Em nota divulgada à imprensa nesta terça-feira, a Odebrecht confirma que a Polícia Federal cumpriu hoje mandados de prisão, condução coercitiva e busca e apreensão em escritórios e residências de integrantes em algumas cidades no Brasil. “A empresa tem prestado todo o auxílio nas investigações em curso, colaborando com os esclarecimentos necessários”, diz a nota.

MANDADOS JUDICIAIS

Quatro mandados de prisão preventiva – Hildeberto Mascanrenhas Alves da Silva Filho (alto executivo que comandava as Operações Estruturadas na Odebrecht), Luiz Eduardo da Rocha Soares (ao lado de Hildeberto, comandava o esquema), Marcelo Rodrigues (operador financeiro da Odebrecht) e Olívio Rodrigues Junior (irmão de Marcelo que também era operador financeiro).

Nove mandados de prisão temporária – Antônio Claudio Albernaz Cordeiro (operador), Antônio Pessoa de Souza Couto (executivo da Odebrecht realizações imobiliárias), Isaias Ubiraci Chaves Santos (Funcionário da Odebrecht ligado a Operações Estruturadas), João Alberto Lovera (executivo da Odebrecht), Paul Elie Altit (executivo da Odebrecht Imobiliária), Roberto Prisco Paraíso Ramos (executivo ligado a Prisco), Rodrigo Costa Melo (Odebrecht Realizações Imobiliárias), Sergio Luiz Neves (executivo da Odebrecht) e Alvaro José Novis (operador financeiro e administrador de duas contas “Carioquinha” e “Paulistinha” usadas para pagar propina).

Vinte e oito mandados de condução coercitiva – André Agostin Moreno, André Luiz de Oliveira, Antonio Carlos Vieira da Silva Júnior, Bruno Martins Gonçalves Ferreira, Douglas Franzoni Rodrigues, Elisabeth Maria de Souza Oliveira, Flavio Lucio Magalhães, Gustavo Falcão Soares, Lourival Ferreira Nery Júnior, Luiz Appolonio Neto, Luiz Roque Silva Alves, Maiara Prado Ribeiro do Lavo, Rogério Martins, William Ali Chaim, Alexandre Biselli, Alyne Nascimento Borazo, Antônio Carlos Daiha Blando, Antônio Roberto Gavioli, Carlos José Vieira Machado da Cunha, Claudio Melo Filho, Eduardo José Mortani Barbosa, Fabio Andreani Gandolfo, Fernando Luiz Ayres da Cunha Santos Reis, Flavio Bento de Faria, Nilton Coelho de Andrade Júnior, Marcelo Marques Casimiro, Camillo Gornati e Paulo Sergio da Rocha Soares.

Os 67 mandados de busca e apreensão estão divididos da seguinte forma:

São Paulo: Guarujá (1), Guarulhos (1), Jundiaí (2), Valinhos (1) e São Paulo (25)

Rio de Janeiro: Angra dos Reis (1), Rio de Janeiro (17)

Bahia: Salvador (7), Mata de São João (1)

Distrito Federal: Brasília (4)

Pernambuco: Recife (4)

Minas Gerais: Belo Horizonte (2), Nossa Fazenda (1)

Rio Grande do Sul: Porto Alegre (1)


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