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PF apreende planilhas da Odebrecht com valores a políticos

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SÃO PAULO E CURITIBA – Planilhas apreendidas pela Polícia Federal lista doações feitas pelo Grupo Odebrecht a mais de 200 políticos do país, de mais de dez partidos. Os documentos foram apreendidos com Benedicto Barbosa Silva Júnior, conhecido como “BJ”, presidente da Odebrecht Infraestrutura e um dos principais interlocutores do empresário Marcelo Odebrecht na alocação de recursos a campanhas políticas. Nesta quarta-feira, o juiz Sérgio Moro decretou sigilo sobre o processo ao qual foram juntadas as planilhas.

Ainda não é possível afirmar se as doações foram feitas legalmente ou por meio de caixa 2. Outros documentos descobertos pela Lava-Jato indicam que alguns desses repasses possam ter sido feitos sem o conhecimento da Justiça Eleitoral. Em depoimento à PF em fevereiro, quando foi preso pela Lava-Jato, Benedicto Júnior disse o ex-presidente de holding, Marcelo Odebrecht, tinha que aprovar os “valores globais” que seriam doados pela empresa.

Na lista, antecipada pelo blog do jornalista Fernando Rodrigues, estão políticos de vários partidos. Chama a atenção que os nomes estejam relacionados a codinomes. O senador José Sarney (PMDB), por exemplo, é chamado de “Escritor”. Renan Calheiros, o “Atleta”. Eduardo Paes, prefeito do Rio, tem como codinome “Nervosinho”. Eduardo Cunha (PMDB) , presidente da Câmara dos Deputados, é o “Caranguejo”. O senador Humberto Costa (PT), “Drácula”. O também senador Lindbergh Farias (PT) aparece como “Lindinho”, como, de fato, é conhecido. O apelido de Manuela Pinto Vieira d’Ávila, deputada federal pelo PC do B, é “Avião”.

A soma dos valores relacionados aos políticos é de R$ 55,1 mil, mas pela quantidade de nomes, e o patamar de gastos das campanhas eleitorais, sugere que a quantia possa ser, na verdade, de R$ 55,1 milhões.

Na 26ª fase da Lava-Jato, deflagrada nesta terça-feira, os investigadores descobriram uma contabilidade paralela da Odebrecht, suspeita de ter criado um departamento apenas para gerenciar o pagamento a políticos e agentes públicos. Nela, os valores também são atribuídos apenas a codinomes, como forma de dificultar a identificação do destinatário. Para a força-tarefa da Lava-Jato, o dinheiro que saiu da contabilidade paralela da empresa era propina de contratos da Petrobras.

A lista desmente parte do depoimento de Benedicto à Lava-Jato. Aos investigadores, o executivo disse que a Odebrecht nunca doava a candidatos e só a diretórios partidários. A lista apreendida pela PF mostra que apesar de oficialmente o dinheiro ir para os comitês e diretórios, o destino final já era um político específico indicado pela empresa.

DOAÇÕES A CAMPANHA DE MINAS

Em uma anotação encontrada com o executivo mostra um suposto controle de doação para a campanha a prefeitura de Belo Horizonte, em 2012. Nela é possível ver três iniciais “ML(PSB)”, “PA(PT)” e “MC (PT)”. “ML” seria o prefeito da capital mineira Márcio Lacerda, que disputava a reeleição naquele ano, já “PA” seria Patrus Ananias, candidato derrotado do PT. E “MC” seria o deputado federal Miguel Corrêa, que seria o candidato a vice na chapa de Lacerda naquela eleição, mas desistiu da eleição para apoiar Ananias.

Em frente de cada inicial, a indicação de valores que podem ter sido repassados a eles. Numa das colunas, denominada de “oficial”, há os valores de 700 para “ML”, 700 para “PA” e 500 para “MC”. Além disso, há uma referência de um segundo repasse a “ML” no valor de 2.300. Os investigadores da Lava-Jato analisam se os repasses foram legais ou não.

A Odebrecht não fez doação oficial direta a Lacerda em 2012. Contudo, a empresa doou ao diretório municipal do PSB cerca de R$ 3 milhões. O valor é compatível com a soma das anotações encontradas com o executivo.

‘SPORT CLUBE UNIDOS VENCEREMOS’

Foi achado também uma folha com regras para “Sport Club Unidos Venceremos”. Ele é similar ao encontrado pela Polícia Federal durante as buscas nas empreiteiras e que mostravam a participação no cartel como “campeonato”. Nesta investigação, ele pode ser relacionado à distribuição de dinheiro a políticos.

A primeira das regras é que “todos terão mesma (remuneração) participação independente de serem titulares ou não durante os jogos”. Além disso, a “escalação dos titulares por jogo será feita pela maioria do Sport levando-se em conta conhecimento que cada um tem do campo de jogo dos jogadores adversários, do juiz da federação que comandará jogo”.

O Sport, no caso, teria sete jogadores principais: Paulistano, Mineiro, Baianinho, Paulista, Carioquinha, Júnior e Novo Baiano, e a regra é que teriam a mesma remuneração “independente de serem titulares ou não durante os jogos”.

“Os jogadores do SPORT aceitarão uma participação de no mínimo 60% do valor total do bicho pago por jogo para os da Federação Regional e 40% para os da Federação Nacional, levando-se em conta as taxas locais cotadas para os adversários”, diz o documento.

OUTRO LADO

Em nota, o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, afirmou que “as contribuições feitas às suas campanhas eleitorais ocorreram de acordo com a lei” e ressalta que “todas as contas foram aprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral”.

O presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (MG), disse que é preciso “separar o joio do trigo” e que a planilha trata de doações contabilizadas em sua prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral. Segundo o tucano, o que ele viu divulgado nesta quarta-feira confirma aquilo que está nas prestações de contas do PSDB.

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), negou que ele ou o PMDB tenham recebido doação de caixa 2, ou seja, não declaradas à Justiça eleitoral. Ele admitiu que pediu a representantes da Odebrecht doações de campanha para o PMDB, citando o nome de Henrique Eduardo Alves, mas de forma legal.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse desconhecer a citação de seu nome em planilhas e reiterou, como em outras ocasiões, que nunca cometeu impropriedade ou ilegalidade.

— Não vi (a lista). Olha, mais uma vez, nunca cometi impropriedade. Essas citações, do ponto de vista da prova, não significam nada, absolutamente nada. Sempre me coloquei à disposição, sempre tomei iniciativa para pedir qualquer investigação que cobram. Acho que a diferença é exatamente essa, é você ter as respostas — disse Renan, que também é investigado na Lava-Jato.


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