Oposição quer convocar ministro para dar explicações sobre telegramas do Itamaraty
BRASÍLIA – A oposição quer convocar o ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, a dar explicações no plenário da Câmara sobre comunicados enviados do Itamaraty às embaixadas tratando o processo de impeachment como “golpe”, conforme revelou matéria do GLOBO desta quarta-feira. Para o deputado Raul Jungmann (PPS-PE) o envio dos comunicados é uma prática criminosa.
– Consideramos que o que foi feito no Itamaraty é um crime de lesa pátria ao atacar a oposição democrática do país. Não estamos em uma guerra civil para se politizar órgãos de estado – afirmou Jungmann.
O PPS vai protocolar o pedido de convocação ainda nesta quarta-feira. O vice-líder do PSDB, Betinho Gomes (PE) fará pedido na mesma direção.
– O que ocorreu na estrutura do Itamaraty é algo gravíssimo. Golpe é usar o estado brasileiro para tentar confundir a opinião da comunidade internacional. É por isso que exigimos a presença do chanceler brasileiro no plenário da Câmara – disse Betinho Gomes.
No Senado, o DEM e o PSDB apresentaram requerimentos pedindo explicações ao Itamaraty e também pedindo a convocação do ministro de Relações Exteriores. O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) cobrou uma reação do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), como presidente do Legislativo, que ficou calado.
— Não sou golpista. Sinto-me particularmente insultado. Esse telegrama foi um absurdo e foi algo inaceitável. Prestaram um verdadeiro desserviço ao Itamaraty, num desrespeito à imagem do Brasil no mundo inteiro — disse Tasso Jereissati.
Ele cobrou do presidente da Casa, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), uma manifestação, mas o presidente do Senado não respondeu. Mais tarde, em entrevista, Renan repetiu os termos de que o impeachment sem provas não pode ser chamado de impeachment.
— E exigi do presidente Renan que defendesse o Congresso. Se ele é um presidente de um Congresso golpista, é de renunciar. Acho que o presidente Renan na sua declaração de ontem foi precipitado — criticou Tasso.
O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), também reagiu.
— Não vai ter golpe, vai ter impeachment — disse o tucano.
O líder do PSDB e o presidente nacional do DEM, senador José Agripino Maia (RN), disseram que o impeachment está previsto na Constituição e que, portanto, está dentro da lei.
Tasso Jereissati apresentou no plenário do Senado requerimento pedindo explicações do Itamaraty sobre o fato de a mensagem ter partido do ministro Milton Rondó Filho, responsável pela área de combate à fome do MRE.
— Nem sabíamos da existência desse departamento — reclamou o tucano.
Já o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), apresentou requerimento para convocação do ministro Mauro Vieira na CRE.
— Queremos explicações. E o governo está querendo implantar um Estado de Defesa. Isso é grave — disse Caiado.
Outros também reclamaram.
— Não vou ser chamado de golpista sem por quem for — disse o senador Waldmir Moka (PMDB-MS).
O vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC), defendeu o governo.
— O secretário-executivo do Itamaraty, embaixador Sérgio Danese, mandou telegrama-circular para todas as embaixadas do Brasil informando de que o governo não tinha posição oficial sobre isso — disse Jorge Viana.
Mas Viana e outros petistas mantiveram o discurso de golpe.
— O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, assumiu a liderança de um golpe no Brasil — disse Jorge Viana.
Os senadores Lindbergh Farias (PT-RJ) e outros mantiveram os gritos de golpe.
— É diferente do (impeachment de Fernando) Collor. Sem ter crime de responsabilidade comprovada, é golpe sim! — disse Linbergh Farias.