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Operação da PF que mira contratos da Odebrecht leva pessoa ligada a Lula para depor

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SÃO PAULO, BRASÍLIA e SANTOS- Taiguara Rodrigues dos Santos, sobrinho da primeira mulher do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e um sócio dele, José Emmanuel de Deus Camano Ramos, foram levados a depor coercitivamente nesta sexta-feira na Polícia Federal do Rio de Janeiro. Os dois foram localizados num mesmo hotel, onde estavam hospedados. Taiguara é investigado sobre possível tráfico de influência internacional, que envolve Lula, em contratos que teria beneficiado a Odebrecht, com dinheiro do BNDES. Seriam obras na África e América do Sul. Também foram cumpridos quatro mandados de busca e apreensão e cinco pessoas foram intimadas a depor. Em Santos, dois contadores foram ouvidos.

O objetivo, segundo informações da PF, é investigar se contratos da Odebrecht com uma empresa do ramo de construção civil “em nome de parentes de um ex-agente público foram utilizados para o pagamento de vantagens indevidas”. Investigadores suspeitam de contratos entre a Odebrecht e uma empresa criada por Taiguara em Angola.

Procurada, a Odebrecht, por meio de sua assessoria, disse que “a empresa não se manifestará sobre o tema”.

Em depoimento prestado à CPI do BNDES, em outubro de 2015, Taiguara negou qualquer vínculo. Ele é sobrinho da ex-mulher do petista, Maria de Lourdes, já falecida. Sua empresa, a Exergia Brasil, mantinha contrato com a Odebrecht e realizou trabalhos na construção de uma hidrelétrica em Angola. Na CPI, ele negou influência do ex-presidente na contratação de sua empresa pela empreiteira. Taiguara afirmou não saber que os recursos eram financiados pelo BNDES.

As medidas cumpridas hoje têm como meta esclarecer quais razões para a Odebrecht ter celebrado contratos, entre 2012 e 2015, com uma empresa de construção civil de pequeno porte com sede em Santos/SP para a realização de obras complexas em Angola. De acordo com a investigação, apenas por seus serviços nas obras de reforma do complexo hidrelétrico de Cambambe, a empresa recebeu R$ 3,5 milhões. A obra recebeu do BNDES financiamento que totalizava US$ 464 milhões.

A Polícia Federal investiga agora a prática dos crimes de Tráfico de Influência e Lavagem de Dinheiro, previstos, respectivamente, no art. 332 do Código Penal e no art. 1º da Lei 9613/98.

O nome da operação é uma referência ao Deus romano Janus (ou Jano). A menção à divindade latina de duas faces, que olha ao mesmo tempo para o passado e para o futuro, quer mostrar como deve ser realizado o trabalho policial, sempre atento a todos os lados e aspectos da investigação.

VIAGEM DE AVIÃO

Em julho do ano passado, a Procuradoria da República do Distrito Federal (PR-DF) decidiu converter um procedimento preliminar de investigação, em procedimento investigatório criminal (PIC), para investigar suposto envolvimento de Lula em tráfico de influência no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para induzir a instituição a financiar obras da Odebrecht no exterior. Com a medida, a procuradoria abre uma investigação formal contra o ex-presidente.

Em abril, o GLOBO revelou que o ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Alexandrino Alencar levou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em um périplo por Cuba, República Dominicana e Estados Unidos, em janeiro de 2013. A viagem foi paga pela construtora e, oficialmente, não tinha relação com atividades da empresa nesses países.

‘MODUS OPERANDI CRIMINOSO’

O ex-presidente informou em fevereiro que iria denunciar a Procuradoria da República no Distrito Federal ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A defesa do petista afirma que os procuradores do DF cometeram “abusos e ilegalidades contra o ex-presidente”. A reação de Lula acontece depois que a revista “Época” revelou na edição deste fim de semana que os investigadores concluíram que o petista fez tráfico de influência em favor da construtora Odebrecht.

“A gravidade dos fatos é gritante, razão pela qual os advogados do ex-Presidente Lula irão, mais uma vez, levar a situação ao conhecimento do Procurador Geral da Republica — que até hoje não deu resposta às ilegalidades antes denunciadas — e ao Conselho Nacional do Ministério Público, que necessita cumprir as suas funções constitucionais e impedir que continue havendo o vazamento de informações sigilosas sonegadas aos advogados” afirma a nota assinada pelo advogado Cristiano Zanin Martins.

De acordo com a revista, os procuradores concluíram que “havia um modus operandi criminoso na atuação de Lula, dos executivos da Odebrecht e dos diretores do BNDES para liberar dinheiro do banco à empreiteira”. O ex-presidente teria vendido sua “influência política à Odebrecht por R$ 7 milhões”. A “Época” diz ainda que “o contrato de palestras entre uma empresa de Lula e a Odebrecht serviu para ‘dar aparência de legalidade’ ao tráfico de influência”.

Os procuradores também identificaram que o BNDES aprovava com velocidade incomum — até 49% acima da média — os financiamentos que envolviam gestões de Lula e interessavam à Odebrecht. Em nota divulgada pelo Instituto Lula, a defesa do ex-presidente contesta a reportagem.

CONTADORES DEPÕEM EM SANTOS

Em Santos, sócios de uma empresa de contabilidade que prestou serviços para duas empresas de Taiguara Rodrigues dos Santos foram intimados e depuseram a sede da Polícia Federal na manhã desta sexta-feira.

Os dois, que não tiveram suas identidades reveladas, possuem uma empresa de contabilidade que, por cerca de três anos, prestaram serviços as empresas de Taiguara que, segundo o advogado dos contadores, Armando de Matos Júnior, não existem mais.

Segundo Armando de Matos Júnior, os dois prestaram esclarecimentos sobre as duas empresas, mas não souberam informar sobre os contratos com a Odebrecht porque “não tinham conhecimento”.

— Eles foram ouvidos para prestar esclarecimentos acerca dessas empresas que pertenciam ao Taiguara, o que elas faziam, origem delas e seus escopos. Agora não falaram sobre contratos com a Odebrecht porque não tinham conhecimento.

De acordo com o defensor, a empresa de contabilidade já não prestava mais serviços às empresas de Taiguara há dois anos. Ele não quis informar o nome das empresas que pertenciam ao empresário.


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