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Nova operação da Lava-Jato teve origem na delação de ex-vice da Caixa ligado a Cunha

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BRASÍLIA – A operação desta sexta-feira, que resultou na prisão de Lucio Bolonha Funaro, teve como origem a delação de Fábio Cleto, um dos ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal. Numa série de depoimentos da delação, Cleto acusa Funaro e Eduardo Cunha de cobrar propina para intermediarem a liberação de recursos do Fundo de Investimentos (FI) do FTGS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), entre outras fontes de recursos administrados pela Caixa.

A PF cumpre mandados em São Paulo, Rio, Pernambuco e Distrito Federal. Além de Funaro, o lobista Milton Lira, supostamente ligado ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), também é um dos alvos da investigação. Os agentes da PF cumprem também mandados de busca e apreensão em uma empresa do grupo J&F, em São Paulo, a Eldorado, do ramo de celulose.

Cleto apontou o nome de pelo menos 12 empresas que teriam recorrido aos serviços dele e do deputado. Entre as empresas citadas estão a OAS, a Norberto Odebrecht e a Carioca Engenharia. O ex-presidente da Caixa acusou ainda o corretor de capitais Lúcio Bolonha Funaro como operador de Cunha. Funaro teria movimentado parte da propina cobrada por Cunha de empresas interessadas na liberação do FI ou do próprio FGTS. O dinheiro teria passado por contas no Uruguai e Suíça, entre outros países.

DEPUTADO TERIA RECEBIDO R$ 52 MILHÕES

O ex-presidente da Caixa também citou o nome do ex-ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves. Segundo ele, o ex-ministro indicou empresas interessadas no esquema de liberação facilitada de recursos do FGTS. Mas os negócios não teriam sido levados adiante.

O ex-presidente da Caixa disse ainda que os percentuais de propina variavam de acordo com o valor a ser liberado. Pelo relato do ex-presidente, Cunha negociava diretamente com as empresas e, depois, determinava os valores que seriam repassados a ele. Pelo acordo de delação, Cleto deverá devolver mais de US$ 1 milhão. A cifra corresponderia propina arrecadada no período em que esteve como o vice-presidente da Caixa. As somas de Cunha seriam mais expressivas. Só a Carioca Engenharia teria repassado R$ 52 milhões para o deputado.

Cleto conhece bem Cunha e Funaro. Ele foi indicado para a vice-presidência da Caixa por Cunha com o aval de boa parte da bancada do PMDB na Câmara. Cleto foi demitido da Caixa pela presidente afastada Dilma Rousseff logo depois da decisão de Cunha de dar seguimento ao processo de impeachment. Antes de ser levado para um cargo estratégico no governo federal, Cleto trabalhou no escritório de Funaro em São Paulo. Cunha e Funaro mantêm antigas e estreitas relações.

FUNDO DE GARANTIA

O FI é formado com recursos do FGTS e “tem por objetivo proporcionar a valorização das cotas por meio da aplicação de seus recursos na construção, reforma, ampliação ou implantação de empreendimentos de infra-estrutura em rodovias, portos, hidrovias, ferrovias, energia e saneamento.

A administração das aplicações está sob a responsabilidade da Caixa. A partir dali, o ex-vice-presidente confessou ter direcionado os recursos para empresas indicadas por Cunha, alvo central da delação dele.

No acordo de delação, ficou acertado que Cleto terá que cumprir prisão domiciliar e usar tornozeleira eletrônica. Terá ainda que prestar serviços à comunidade. O ex-vice-presidente da Caixa prestou depoimento por cinco dias consecutivos. Ele teria sido interrogado uma média de 10 horas por dia. Os depoimentos começavam por volta das 9 horas e só terminavam à noite, por volta das 20 horas.

Na segunda-feira, a assessoria de Cunha disse que o deputado só falaria sobre a delação de Cleto depois de conhecer o conteúdo das declarações dele. O advogado Antônio Mariz, responsável pela defesa de Funaro, disse que não tratou do assunto com o cliente. Também só dará declarações sobre o caso depois que tiver acesso à delação. O advogado Adriano Salles, responsável pela defesa de Cleto, disse também que não falará sobre o assunto.


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