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Nomes de sempre num eventual Ministério

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BRASÍLIA — Sempre aliado do governo, qualquer que seja, um grupo de caciques e partidos têm conseguido se manter no centro do poder mesmo com a polarização PT-PSDB dos últimos 21 anos. Num eventual governo de Michel Temer, a história deve se repetir. Parte dos nomes escalados para um futuro Ministério já esteve com tucanos e petistas. O próprio partido de Temer, o PMDB, manteve-se ao lado do tucano Fernando Henrique Cardoso e dos petistas Lula e Dilma Rousseff.

Para especialistas, aliados de conveniência conferem ao presidencialismo de coalizão implantado desde FH características únicas, como a falta de doutrina política. Enquanto em outros países as coligações e apoios políticos respeitam ideologias partidárias, no Brasil as alianças são costuradas de olho na reeleição e na sobrevivência de legendas.

Assim como o PMDB de Temer, o PP (antigo PPB) tem participado em todos os governos. A sigla esteve com Fernando Henrique, Lula e Dilma. Outras legendas, como PR (antigo PL), PSD e PRB, além de partidos pequenos, seguem garantindo cadeiras nos ministérios e no segundo escalão — passaram por Lula e deixaram o governo Dilma para, então, seguir com Temer.

FATIAMENTO DO MINISTÉRIO

O PMDB do vice-presidente tem se mostrado defensor da política do “sou governo”. É um dos partidos que mais emplacam e repetem nomes nos ministérios. Cotado para a Secretaria-Geral de Temer, Geddel Vieira Lima integra o grupo político da legenda mais próximo do vice. Um dos primeiros peemedebistas a defenderem o rompimento com Dilma, Geddel comandou o Ministério da Integração Nacional de Lula e foi vice-presidente da Caixa no governo da presidente Dilma. Na era de FH foi líder do governo no Congresso.

Ao lado de Geddel em um eventual Ministério de Temer estão Eliseu Padilha, cotado para assumir a Casa Civil, e Moreira Franco, que pode ir para uma secretaria responsável por privatizações e concessões. Ambos participaram do governo Dilma. Padilha ainda comandou a pasta de Transportes de FH. Fecha o grupo, que estará, desta vez, no governo da própria legenda, o senador Romero Jucá, apontado para o Planejamento. Ele foi ministro da Previdência no governo Lula e líder dos governos FH, Lula e Dilma.

— A grande quantidade de partidos, impulsionada pela falta de mecanismos que freiem a criação de tantas legendas, leva à fragmentação das negociações. Surgem nomes e partidos que participam de todos os governos — explica a professora de História Política Marly Motta, da Fundação Getulio Vargas. — Algumas legendas pulam de governo para governo por sobrevivência. Os políticos, para se reelegerem. Os presidentes se tornam reféns dessas legendas na hora de montar a base. O PMDB é um caso específico, tem uma bancada numerosa e acaba sendo o fiel da balança.

Para Marly Motta, a redução de ministérios a serem cortados para apenas três indica que um eventual governo Temer enfrenta problema semelhante aos de FH, Lula e Dilma: o de acomodar velhos aliados de outros governos.

Na lista dos que atuaram nos governos de PSDB e PT, Nelson Jobim está cotado para voltar à Defesa, pasta que comandou nas gestões Lula e Dilma. Foi ministro da Justiça de FH.

Henrique Alves engrossa a lista. Deve ficar à frente do Turismo, mesma pasta que ocupava no governo Dilma.

KASSAB SE MANTÉM

Entre os nomes já definidos e herdados de outros governos está o do ex-ministro das Cidades de Dilma Giberto Kassab, do PSD. Ex-prefeito de São Paulo, ele tentou, enquanto esteve na pasta, reduzir o poder do PMDB em favor de Dilma, ao tentar ressuscitar o PL e filiar peemedebistas. Hoje, Kassab é aliado do PMDB. Também está cotado o deputado Sarney Filho, do PV, na pasta do Meio Ambiente, área que comandou no governo FH.

— Aliados por conveniência representam um mal para a representação dos partidos. As nomeações são lícitas, mas esbarram na ética. Dilma foi derrotada pelos aliados. Sua base migrou para Temer, que num provável governo assumirá já correndo o mesmo risco — avalia o cientista político Paulo Baía, da UFRJ.


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