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MPF denuncia ex-senador Gim Argello e Ronan Maria Pinto

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SÃO PAULO, CURITIBA — O ex-senador Gim Argello e o empresário Ronan Maria Pinto, dono de empresas de ônibus no ABC paulista foram denunciados à Justiça Federal nesta sexta-feira pelo Ministério Público Federal. Os dois foram presos na 28ª e na 27ª fases da Operação Lava-Jato e haviam sido indiciados pela Polícia Federal na última terça-feira. As duas denúncias envolvem outros 18 acusados, entre eles os empresários Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro, Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, e o publicitário Marcos Valério, já condenado no processo do mensalão.

O ex-senador Gim Argello, do PTB, e mais dez pessoas foram denunciadas por corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, organização criminosa e obstrução às investigações. Segundo o Ministério Público Federal, na condição de vice-presidente da CPI da Petrobras, em 2014, Argello pediu R$ 5 milhões para sete empreiteiras do cartel da Petrobras, para que seus dirigentes não fossem convocados a depor. Quatro delas pagaram: UTC, OAS, Toyo Setal e Odebrecht. Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Engevix não teriam aceitado pagar.

– Gim Argello tornou a CPI um balcão de negócios – afirmou o procurador Athayde Costa.

Argello recebeu R$ 7,750 milhões em reais e 200 mil euros. Além dele, foram denunciados os empresários Léo Pinheiro, da OAS; Ricardo Pessoa, da UTC; e Marcelo Odebrecht, da Odebrecht, o filho de Argello, Jorge Afonso Argello Junior; dois assessores do ex-senador, Paulo Roxo e Valério Neves Campos; Walmir Pinheiro, diretor financeiro da UTC; José Zardi Ferreira, Dilson Paiva Filho e Cláudio Melo Filho.

O ex-senador recebeu da Toyo Setal R$ 200 mil em espécie e 200 mil euros. A UTC depositou R$ 5 milhões para quatro partidos políticos o DEM recebeu R$ 1,7 milhão; o PR ficou com R$ 1 milhão; PMN e PRTB receberam R$ 1,15 milhão cada um. A Odebrecht pagou R$ 200 mil para o PR, partido que também recebeu R$ 2 milhões da Toyo Setal. Os pagamentos aos partidos foram doações oficiais. Júlio Camargo, que atuou pela Toyo Setal, também pagou em espécie ao então senador R$ 200 mil em reais e 200 mil euros.

Para o Ministério Público, no caso da Camargo Corrêa houve concussão. Enquanto as demais empresas negociaram os valores em jantares, Argello não teria dado margem de opção a Gustavo Marques, gerente de relações institucionais da companhia, ao dizer que “há coisa que não se contesta, se executa”. A empreiteira não pagou a propina e Marques afirmou que, depois da negativa, Argello passou a pressionar a empresa, formulando várias perguntas sobre ela durante o depoimento de Meire Poza à CPMI. Meire era contadora do doleiro Alberto Youssef e sabia sobre os repasses de dinheiro da Camargo Corrêa.

– Essa denúncia mostra a gravidade dos fatos. Constitui uma espécie de corrupção da corrupção, corrupção ao quadrado, meta corrupção – disse o procurador Deltan Dallagnol, acrescentando que vários pagamentos de propina foram feitos por meio de doações legais, capazes de alterar o quadro de disputa eleitoral democrática.

– Quantas outras vezes isso não acontece e nós não descobrimos? – indagou.

PT teria feito pagamento a Ronan

O empresário Ronan Maria Pinto e mais oito pessoas foram denunciados por lavagem de dinheiro: o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, o publicitário Marcos Valério, o empresário Natalino Bertin, que teria repassado o dinheiro para Ronan Maria Pinto, e outros intermediários, como Sandro Tordin, presidente do Banco Schahin, Enivaldo Quadrado, Luiz Carlos Casante, Breno Altman e Oswaldo Rodrigues Vieira Filho.

Ronan é acusado de receber R$ 5,7 milhões oriundos de um empréstimo fraudulento retirado em nome do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula. Bumlai admitiu que tirou um empréstimo de R$ 12 milhões no banco Schahin para pagar dívidas de campanha do PT. O empréstimo não foi pago. Foi quitado fraudulentamente depois que o Grupo Schahin, dono do banco, obteve contrato de R$ 1,6 bilhão com a Petrobras.

Assim que recebeu o dinheiro do banco, Bumlai teria repassado ao Frigorífico Bertin, uma das empresas de Natalino Bertin, que teria providenciado que o dinheiro chegasse a Ronan por meio de terceiros.

Segundo o procurador Diogo Mattos, o publicitário Marcos Valério, que era operador do PT em 2004, arquitetou o plano para que o dinheiro chegasse a Ronan.

Os primeiros documentos envolvendo Ronan foram apreendidos no escritório da contadora do doleiro Alberto Youssef. Eram contratos de mútuo (empréstimo entre empresas) da S2, do publicitário Marcos Valério, com a Remar Assessoria, do Rio de Janeiro. Em seguida, num segundo contrato do tipo, a Remar repassou o dinheiro para a Expresso Santo André, de Ronan Maria Pinto.

O publicitário Marcos Valério, condenado a 37 anos de prisão no mensalão, afirmou em 2012, quando tentou firmar acordo de delação para reduzir sua pena, que Ronan havia chantageado dirigentes do PT e pedido dinheiro para comprar o jornal Diário do Grande ABC. O alvo da chantagem seriam informações sobre o assassinato de Celso Daniel, que era prefeito de Santo André e foi morto em 2002. Para o juiz Sérgio Moro, o caso pode estar ligado ao esquema de corrupção do PT. Quando foi assassinado, o prefeito era também tesoureiro da campanha que levou Lula à Presidência da República.

O lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano afirmou em depoimento de delação premiada ter ouvido que o empréstimo “teria sido tomado para pagar chantagem que o presidente Lula estaria sofrendo”.

Delúbio Soares participou da reunião no Banco Schahin com José Carlos Bumlai, quando o empréstimo foi combinado. O jornalista Breno Altman, do site Brasil 247, foi citado por Marcos Valério. Ligado ao ex-ministro José Dirceu, ele teria providenciado pagamentos de multas a Enivaldo Quadrado, subordinado do doleiro Alberto Youssef flagrado no mensalão em irregularidades na corretora Bônus Banval.


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