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Meirelles diz que não recebeu convite de Temer para assumir Fazenda

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BRASÍLIA — Após uma reunião de cerca de duas horas no Palácio do Jaburu na tarde de ontem, o ex-presidente do Banco Central (Bacen) Henrique Meirelles negou que tenha recebido convite oficial do vice-presidente Michel Temer para assumir o Ministério da Fazenda em um eventual governo do peemedebista, mas, em entrevista coletiva ao final do evento, defendeu fórmulas para a retomada do crescimento em um discurso afinado com o que tem pregado o vice.

Nome mais cotado neste momento para comandar a equipe econômica caso o impeachment da presidente Dilma Rousseff seja confirmado no Senado, Meirelles disse estar sempre disposto a ajudar com aconselhamentos e afirmou que, pelas perguntas que Temer fez a ele durante a conversa, o vice está com o diagnóstico correto sobre a economia. Para o ex-presidente do Bacen, o principal é resolver a questão política.

— Pelas perguntas que ele fez, me parece que ele está com uma visão bastante correta e adequada. Existe muita oportunidade. O principal é a resolução da questão política e, a partir daí, o direcionamento econômico segue naturalmente. Certamente, como sempre, estou disposto a aconselhar — afirmou Meirelles.

Perguntado sobre que remédios poderia vir a implementar na hipótese de assumir o comando da economia, Meirelles disse que a alta carga tributária no Brasil tem que ser endereçada e sinalizou que adotaria as mesmos medidas de combate à inflação que funcionaram quando ele esteve à frente do Banco Central.

— O mais importante para o Brasil é a questão da alta carga tributária, isso tem que ser endereçado no país de maneira estrutural. Para isso, tem que se endereçar a questão do crescimento das despesas públicas. O Brasil tem tudo para crescer, é uma questão de retomada da confiança e de uma clara trajetória de dívida pública sustentável. O mais impostante é tomar medidas para sinalizar que a trajetória da dívida pública vai ser revertida no devido prazo e que, a partir daí, a confiança possa aumentar. E, com a confiança aumentada, os investimentos possam aumentar — afirmou Meirelles, que defendeu ainda investimentos em infraestrutura para o setor privado.

Participaram também do encontro o presidente do PSD, Gilberto Kassab — que até a semana passada era ministro de Dilma Rousseff —, e o presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR).

Com a resistência de Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, em aceitar o Ministério da Fazenda em um eventual governo Temer, Meirelles passou a ser fortemente cogitado para o cargo, conforme antecipou O GLOBO. Ele é visto, assim como Armínio, como um nome que teria grande aceitação no exterior e ajudaria a recuperar a credibilidade do país para a retomada de investimentos, ponto considerado crucial no entorno de Temer.

— O que vemos como fundamental agora é ter nomes referendados por todo o mercado e que tenham projeção forte lá fora. Tanto o Armínio, quanto o Meirelles preenchem esses requisitos — afirma um auxiliar de Temer.

Aliados do vice negaram que o encontro deste sábado tenha sido para formalizar um convite para Meirelles assumir o Ministério da Fazenda. Admitem, no entanto, que, dependendo de sua disposição, o assunto pode avançar. Há uma percepção, no núcleo mais ligado ao vice, de que é preciso ter pressa na formação da equipe econômica do eventual governo peemedebista para que, uma vez que o Senado decida pelo afastamento de Dilma Rousseff, Temer já tenha formado o grupo que ficará responsável pela economia.

Assumir o governo já tendo nomes na área econômica e propostas para serem implementadas de imediato são fatores considerados fundamentais por pessoas ligadas a Temer para que seja aceito no mercado e no meio político.

PROTESTOS ANTES DA REUNIÃO

Pouco antes do início da reunião, cerca de 80 manifestantes do Levante Popular da Juventude do Distrito Federal e MST protestaram na frente do Palácio do Jaburu contra Michel Temer e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), na tarde deste sábado. Os manifestantes exibiam cartazes e gritam palavras de ordem contra Temer e Cunha.

Na sexta-feira, Temer deixou sua residência, em São Paulo, e veio para o Palácio do Jaburu, para fugir das manifestações contra o “golpe”. Aconselhado pelos seguranças, ele se transferiu para Brasília. Assim como fizeram diante da residência de Temer em Pinheiros, os manifestantes deixaram o caminho até o Jaburu sinalizado com as expressões “Temer Golpista” e “QG do Golpe”. Policiais do Corpo de Bombeiros tentam limpar as pichações deixadas no asfalto.

“Nós não aceitaremos um governo ilegítimo conquistado por golpistas. Para nós, nesse momento da conjuntura política brasileira, nossa jovem democracia está ameaçada, uma presidente legitimamente eleita por mais de 54 milhões de pessoas e que não é acusada de qualquer crime, seja de corrupção ou de responsabilidade fiscal, está correndo o risco de ser afastada em um golpe orquestrado por esses traidores da pátria, como Temer, Cunha e outros. Hoje nos organizamos para mostrar que estamos em luta e continuaremos nas ruas para denunciar esse golpe que é contra o povo brasileiro, em especial a juventude”, diz o comando dos movimentos.


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