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Machado diz que políticos sabiam que dinheiro arrecadado era propina

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BRASÍLIA — O ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado afirmou em sua delação premiada, como registram os vídeos dos depoimentos prestados à Procuradoria Geral da República (PGR), que “todo mundo sabe da origem” do dinheiro que arrecadava para os políticos, ao responder por que entendia ser propina o dinheiro pedido pelo presidente interino Michel Temer. Conforme o delator, Temer pediu diretamente a Machado, numa sala na Base Aérea de Brasília vizinha à sala da Presidência da República, a destinação de recursos para a campanha de Gabriel Chalita, candidato do PMDB à Prefeitura de São Paulo em 2012, conforme o ex-presidente da Transpetro.

Os procuradores da República que o interrogaram quiseram saber, já no primeiro depoimento prestado por Machado em 4 de maio, para quem se destinava a propina, depois de o delator dizer que fez doação a Chalita “pedida através do vice Michel Temer”. O ex-presidente da Transpetro respondeu:

— A propina é o seguinte. Um político sabe que as contribuições oficiais vêm dos investimentos da empresa. Quem me pediu o recurso para a candidatura dele (Chalita) a prefeito de São Paulo foi o vice Michel Temer. Via doação oficial. Não houve dinheiro.

Os procuradores, então, questionaram Machado se os candidatos e arrecadadores de recursos sabiam que o dinheiro era propina.

— Eu nunca disse que era propina, mas eu acho que dificilmente alguém no meio político, que esteja em atuação, que tenha disputado eleição, não saiba como funciona o sistema. Eu nunca falei para nenhum desses que eu estava dando dinheiro de propina. Eles me procuravam perto da eleição, se eu podia ajudar, de alguma maneira contribuir, examinar quem dispunha de recursos e contribuir. Eu nunca disse a nenhum deles: “Isso é recurso de propina.”

Machado afirmou que atendia a pedidos como o supostamente feito por Temer porque “eram políticos com os quais eu tinha interesse de manter relação e dispunha de uma parcela de recursos para atender a esse tipo de doação”.

— Dentro do mundo político, todo mundo sabe da origem, mas eu nunca falei. Posso imaginar que eles sabiam de onde vinham. As empresas que contribuem são as mesmas. Elas não têm nenhum interesse partidário. Dão em função de contratos e vantagens que estão esperando receber — disse o delator.

DOAÇÃO PARA O DIRETÓRIO NACIONAL

O suposto encontro com Temer na Base Aérea ocorreu em setembro de 2012, segundo Machado. O vídeo do depoimento revela que Temer não quis nem saber de qual empresa partiria a doação, conforme o relato do delator. Coube a Machado informar posteriormente que o dinheiro sairia da Queiroz Galvão:

— Eu disse que podia ajudá-lo em R$ 1,5 milhão, mas que depois informaria a ele a empresa. Telefonei depois a ele informando que essa doação seria feita pelo diretório nacional, através de doação da empresa que seria a Queiroz Galvão. Chegamos lá e fomos para uma salinha pequena, onde conversamos por 15 a 20 minutos.

Os registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que a Queiroz Galvão fez uma transferência eletrônica de R$ 1,5 milhão à Direção Nacional do PMDB em 28 de setembro de 2012. No mesmo dia, o diretório transferiu R$ 1 milhão — também por via eletrônica — para a campanha de Chalita, segundo os registros do TSE.

O primeiro contato partiu do senador Valdir Raupp (PMDB-RO), segundo o delator. O parlamentar pediu dinheiro para os próprios interesses eleitorais e também citou o pleito de Temer, conforme os depoimentos.

— O senador Valdir Raupp, em 2012, me procurou dizendo que o candidato do vice-presidente Michel Temer estava em dificuldades financeiras, numa situação ruim, se eu poderia ajudá-lo. Eu liguei para o vice Michel Temer, marquei um encontro com ele num aeroporto militar de Brasília, na sala vizinha à sala da presidência, em setembro, num início de noite, em 2012. Chegando lá, conversei com ele, falou das dificuldades que estava tendo lá em São Paulo acerca de campanha do Chalita — disse Machado aos procuradores da República que integram o grupo de trabalho de Lava-Jato da PGR.

— Como era o ambiente? — questionaram os procuradores.

— Chegamos lá e fomos para um salinha pequena, onde conversarmos durante uns 15 ou 20 minutos. Você tem a sala da presidência de um lado e outra sala onde embarca as autoridades. Nessa lá de embarque das autoridades, tem uma salinha onde eu fiquei reunido com ele — detalhou.

Os procuradores quiseram saber quem Machado procurou na Queiroz Galvão “para viabilizar a do Chalita”.

— A conversa era sempre com Ricardo (Queiroz Galvão) ou Ildefonso (Colares) – respondeu.


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