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Lula diz que há tentativa de evitar sua volta à Presidência

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SÃO PAULO – Em entrevista ao jornalista americano Gleen Greenwald, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou o processo de impeachment em curso de “um golpe político”, afirmou existir uma “criminalização do PT” e uma tentativa de evitar uma nova candidatura sua à Presidência da República. Foi Greenwald o autor das reportagens, na época pelo “The Guardian”, das primeiras informações sobre os programas de vigilância global da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, em 2013, com base em documentos fornecidos por Edward Snowden.

Ao tecer comentários sobre a crise política do país, Lula não isentou o PT pela culpa, mas afirmou que o processo de cassação do mandato de Dilma Rousseff mora na vontade da oposição em vê-la longe do Palácio do Planalto.

“Não estou dizendo que o PT não tem culpa, não. E se o PT tiver culpa tem que pagar como qualquer outro partido. O PT não é imune. O que eu estou dizendo é que neste momento… neste momento histórico, o que existe é a tentativa de criminalizar o PT, de tirar a Dilma e de tentar evitar qualquer possibilidade do Lula voltar a ser candidato a presidente neste país”, afirmou o ex-presidente.

Lula ainda afirmou que, em sua visão, o impeachment é um “golpe político” uma vez que a presidente Dilma Rousseff não teria cometido nenhum crime de responsabilidade. Ele também teceu duras críticas ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que, para ele, “não tem responsabilidade, nem congressual, nem na sociedade”, para levar adiante o processo de impeachment:

“O Congresso Nacional poderia se respeitar, sabe, levando em conta que não existem condições políticas de fazer o julgamento da Dilma tal como eles estão fazendo”.

A entrevista com Lula foi publicada no novo site do jornalista, “The Intercept”. Na introdução de sua conversa com o petista, Gleenwald escreveu que Lula “nega veementemente todas as acusações contra ele e se considera uma ‘vítima’ da classe plutocrática ainda poderosa no Brasil e de seus órgãos midiáticos, que moldam a opinião pública”.

Sobre a Lava-Jato, o ex-presidente ressaltou que foi o governo do PT que possibilitou que as investigações da Polícia Federal ocorressem, ao garantir uma maior autonomia das ações de instituições como o Ministério Público e a PF. Como aspecto positivo da operação, diz ainda que, “pela primeira vez, rico está sendo preso. Porque aqui no Brasil prendia-se um pobre porque roubava pão, mas não prendia-se um rico que roubava 1 bilhão. Prendia-se um pobre porque roubava remédio, mas não prendia um cidadão rico que sonegava imposto de renda”.

No entanto, não deixou de salientar o aspecto negativo da Lava-Jato. Ele frisa se perguntar “todo santo dia” a mesma questão: “será que para você fazer o processo de investigação que você está fazendo é preciso fazer disso um Big Brother, é preciso fazer disso um espetáculo de pirotecnia todo santo dia?”. E disse achar “esquisito” um “processo de vazamento seletivo das notícias normalmente contra o PT”.

Com duras críticas à cobertura da mídia brasileira, o Lula falou, diversas vezes, sobre a “tentativa de criminalizar o PT” e defendeu-se de qualquer acusação e das investigações sobre o tríplex no Guarujá:

“Veja, eu estou vendo as coisas acontecerem, estou vendo as mentiras que são contadas, eu estou vendo as invenções que estão fazendo contra o Lula, sabe, inventaram um apartamento para mim, alguém vai ter que me dar aquele apartamento”, disse o ex-presidente, que declarou ainda: “eu duvido que tenha um empresário, amigo ou inimigo, que diga que um dia discutiu 10 centavos comigo”.

Sobre as delações, pôs dúvidas as do senador Delcídio do Amaral que, claramente, segundo Lula, as fez porque “queria escapar da cadeia”, e disse que os empresários também delatam para “se livrar da prisão tentando jogar a culpa do crime em cima de alguém”.

“Qualquer dia, alguém pode citar que você, sabe, foi beneficiado com a doação de uma empresa. O que eu acho fantástico e hilariante é que as empresas têm dois cofres. Um cofre de dinheiro honesto e um cofre de dinheiro corrupto. O cofre de dinheiro honesto é para o PSDB, para o PMDB e para outros partidos. O cofre de dinheiro podre é para o PT. É no mínimo insanidade mental acreditar nisso”, concluiu Lula.


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