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Lava-Jato investiga pagamentos de grupo mexicano a José Dirceu

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SÃO PAULO — A força tarefa do Ministério Público Federal investiga negócios entre o grupo mexicano Elektra e a JD Consultoria, do ex-ministro José Dirceu, condenado no mensalão e réu na Lava-Jato. O grupo, que reúne as lojas Elektra e o Banco Azteca, fez pagamentos de R$ 1,7 milhão à consultoria de Dirceu, a JD, por meio de operações de câmbio originárias de agências bancárias em Nova York, segundo documento do Ministério Público Federal.

O Banco Central decretou a liquidação extrajudicial do Azteca em janeiro passado por “comprometimento da situação econômico financeira, existência de graves violações às normas legais e regulamentares que disciplinam a atividade da instituição e ocorrência de prejuízos, sujeitando os credores a risco anormal”. No último dia 6, nomeou comissão de inquérito para investigar a atuação do Azteca no Brasil.

Em seu comunicado a investidores, também em janeiro, o Grupo Elektra informou que começara o processo de retirada de suas operações no Brasil em 2015 e que, “para finalizar o fechamento”, o Banco Central do Brasil havia iniciado “processo de liquidação extrajudicial”. O comunicado afirma que as operações no Brasil representavam apenas 0,3% do total do grupo.

O grupo, que pertence ao bilionário mexicano Ricardo Salinas, chegou ao Brasil em 2008 com a meta de abrir mil lojas. O Azteca foi inaugurado pelo então presidente Lula. Num discurso no Fórum Empresarial Brasil-México, realizado em Recife no mesmo ano, Lula afirmou que o banco esbarrou em burocracia para atuar no Brasil e que pretendia oferecer crédito barato aos brasileiros.

“Eu disse para o Salinas: nós vamos fazer o seu banco funcionar aqui no Brasil, até porque se você conseguir reduzir o spread para o povo mais pobre, eu penso que vai ser uma lição. Eu estou desafiando os bancos brasileiros, sobretudo os públicos, a perceberem o que vai acontecer com a entrada do Banco Azteca no Brasil”, discursou Lula, que participou da inauguração da sede do banco.

A rede de varejo abriu apenas 35 lojas e sua atuação ficou restrita a Recife, Natal e municípios da Paraíba e Bahia. Salinas tinha como objetivo aproveitar o aumento do consumo das classes C, D e E no Nordeste. A empresa chegou a ter problemas com cobrança de inadimplentes. Consumidores denunciaram que cobradores da rede entravam em suas casas e tentavam retirar qualquer produto de valor para quitar a dívida, mesmo que adquiridos em outras lojas.

Em maio passado, a Elektra fechou as portas e deixou o Brasil sem pagar direitos trabalhistas a mais de 500 funcionários, que chegaram a fazer protestos em Recife. Funcionários da rede fizeram um dossiê com denúncias e encaminharam para o Ministério Público Federal. Eles afirmam que suas contas no Banco Azteca, que tinha uma única agência em Recife, teriam sido usadas para lavagem de dinheiro.

Segundo E.S, um ex-funcionário que teme ser identificado, as contas eram movimentadas à noite, com dinheiro que entrava e saia poucas horas depois. Esses valores chegavam a R$ 100 mil reais por dia.

— Essa movimentação ilegal ocorria à noite. Pela manhã o saldo estava normalizado — diz ele.

Os funcionários informaram ao MPF que as contas correntes eram “espelhadas”. Uma delas era remunerada com juros de 1% ao mês e outra, sem remuneração, era batizada de “guardadito”. As movimentações suspeitas ocorreriam nesta segunda conta.

Segundo o advogado Roberto Podval, José Dirceu prestou serviços à Elektra Del Milenium no México e recebeu por meio da JD Consultoria. Podval afirma que Dirceu não prestou nenhum serviço para a empresa mexicana no Brasil. O milionário Ricardo Salinas foi arrolado como testemunha de defesa do ex-ministro e deve ser ouvido no México por carta rogatória.

O Banco Central informou que não se manifesta sobre a situação específica de instituições financeiras, mesmo que sob regime de liquidação. O sigilo legal, explicou, o impede de prestar esclarecimentos sobre a liquidação do Azteca.


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