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Jucá pede licença do cargo após divulgação de gravações

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BRASÍLIA – O ministro do Planejamento, Romero Jucá, anunciou na tarde desta segunda-feira que pedirá ainda hoje licença do cargo de ministro. O ministro disse que ficará afastado do cargo até o Ministério Público Federal se pronunciar sobre os áudios e destacou que, se for inocentado, voltará ao posto. Jucá afirmou que indicará temporariamente para o cargo o secretário-executivo do próprio Planejamento, Dyogo Oliveira. Ministros ligados a Temer, porém, dizem que o afastamento de Jucá é definitivo, segundo informa o colunista Jorge Bastos Moreno.

— Eu sou o presidente do PMDB e um dos consultores desse governo. Não farei nada que possa prejudicar. Vou sair de licença amanhã. Enquanto o Ministério Público não se manifestar, dizer que não houve crime, eu aguardo fora do ministério — disse Jucá.

Pesou na saída de Jucá do Ministério do Planejamento a avaliação de sua permanência no cargo prejudicaria muito o governo Temer nesta arrancada. A decisão foi tomada em uma reunião no Planalto entre Temer, Jucá, Geddel e Padilha minutos antes de se encontrarem com Renan Calheiros.

Os dois primeiros nomes cogitados para assumir imediatamente o posto de Jucá – o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) e o ex-ministro Moreira Franco, responsável pelas privatizações estudadas por Temer – sinalizaram para Temer não ter interesse em assumir o cargo, alegando não ter perfil para o posto que exige ampla capacidade de negociação com o Congresso.

Nos áudios gravados, Jucá diz a Machado que devem “estancar a sangria” causada pelas investigações do juiz Sérgio Moro e comenta que as próximas delações não deixariam “pedra sobre pedra”. Ele ataca ainda o presidente do Senado Federal, Renan Calheiros, e do PSDB, Aécio Neves. Na gravação divulgada pela Folha, Jucá diz que a ficha do PSDB teria caído e que Aécio seria “o primeiro a ser comido”. Eles sugeriram que a eleição que alçou o tucano à presidência da Câmara dos Deputados, em 2001, teve ilegalidades.

Pela manhã, em entrevista coletiva, o ministro reforçou que defende a Operação Lava-Jato e disse que a gravação foi divulgada fora de contexto e com “frases soltas”. Ele ainda explicou que, ao falar que é preciso “estancar a sangria”, ele se referia à paralisia da economia. No entanto, o jornal ‘Folha de S. Paulo’ divulgou o trecho da gravação em que deixa claro que Jucá não falava de economia.

Em um dos áudios, Machado comenta a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de autorizar prisões após decisão em segunda instância. A mudança de entendimento do STF ocorreu em 17 de fevereiro. Na conversa, Machado teme que aumente o número de delações: “vai todo mundo delatar”. Na sequência, o ex-presidente da Transpetro diz que é preciso “montar uma estrutura para evitar que eu desce”, para evitar que seu caso fosse encaminhado para a Justiça Federal de Curitiba, onde atua o juiz Sérgio Moro. Machado expõe preocupação com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot: “ele está visando o Renan e vocês. E acha que eu sou o canal”. Na sequência, Jucá responde:

“Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. […] Tem que ser política, advogado não encontra [trecho inaudível]. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra… Tem que mudar o governo para poder estancar essa sangria.”

Ao anunciar a licença, o pepemedebista voltou a chamar de “manipulação das informações” as matérias decorrentes do áudio em que aparece conversando sobre as investigações com Sérgio Machado.

— Vou ajudar a aprovar a meta no Senado. Não quero que paire nenhuma dúvida sobre minha conduta. O presidente me deu um voto de confiança, mas eu preferi sair. O presidente entendeu minha posição, viu minhas entrevistas, tenho defendido que se delimite a culpa a quem tem culpa — afirmou Jucá.

Ele disse ter convicção de que não fez nada de errado. Enquanto Jucá concedeu a entrevista, foi chamado de golpista por deputados e senadores.

O ministro Romero Jucá explicou que será exonerado para reassumir a função de senador enquanto o episódio de sua conversa com Sergio Machado não for esclarecido. E no Senado fará o “enfrentamento” para aprovar a nova meta fiscal do governo.

Em uma segunda entrevista, minutos após anunciar sua licença do cargo, afirmou que Temer pediu para que ele ficasse como ministro do Planejamento, mas que ele preferiu se afastar. Segundo Jucá, que esteve reunido com Temer no gabinete do presidente do Senado Renan Calheiros até o momento em que deu a coletiva para anunciar sua licença, o presidente interino ainda não havia sido informado de que resolveu dessa forma.

— Ele pediu para que eu ficasse e eu respondi a ele que acho que eu devo tirar uma licença. Essa decisão eu não comuniquei a ele ainda — contou Jucá.

Sobre a votação da meta, Jucá disse que a Comissão de Orçamento a analisará hoje e que a sessão do Congresso para votá-la será antecipada para as 11h desta terça-feira. A antecipação foi confirmada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Ao deixar a entrevista, cercado por deputados e senadores da oposição, Jucá discutiu com a deputada petista Moema Gramacho (BA). Ao ser chamado de “golpista” pela parlamentar, respondeu: “vou botar vocês todos na cadeia”. Gramacho replicou: “quem vai para a cadeia é você”.


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