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IstoÉ: Delcídio diz que Temer, no governo FH, foi padrinho de operador preso na Lava-Jato

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BRASÍLIA e são paulo O ex-líder do governo na Câmara e investigado na Lava-Jato, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) disse em colaboração premiada proposta à força tarefa que o vice-presidente Michel Temer teria sido o “padrinho” da nomeação de João Augusto Henriques para a BR Distribuidora durante o governo Fernando Henrique. Henriques foi preso pela operação Lava-Jato, sob a acusação de ser um dos operadores de propina ligados aos PMDB. A informação foi publicada na edição deste fim de semana da revista “IstoÉ”.

De acordo com o senador, Henriques, que trabalhou na Petrobras por 22 anos e deixou a estatal em 1999, época em que teria participado do que Delcídio chamou de “esquema de compra ilícita de etanol”. De acordo com o senador, que não entrou ainda em detalhes sobre o que seria o esquema, a prática teria ocorrido entre 1997 e 2001, durante o governo FH.

O senador também afirmou que Temer teria atuado para emplacar Henriques em substituição a Nestor Cerveró para a Diretoria Internacional da Petrobras, mas teria sido vetado por Dilma Rousseff.

Na delação divulgada pela revista, Delcídio disse ainda que na época em que era presidente da Comissão Parlamentar Mista de Investigação (CPMI) dos Correios, que investigou o mensalão, permitiu ao Banco Rural que tivesse mais prazo para apresentar dados referentes a uma quebra de sigilo bancário da instituição.

O objetivo, segundo o senador, era permitir ao banco “maquiar” demonstrativos internos para, assim, evitar que o escândalo atingisse o governo de Minas Gerais, comandado por Aécio Neves (PSDB) entre 2003 e 2010.

O chefe da Casa Civil dos oito anos de Aécio à frente do governo de Minas, Danilo de Castro, foi avalista de empréstimos do Banco Rural que beneficiaram parlamentares tucanos, mas a investigação do caso viria a ser arquivada pelo Ministério Público de Minas Gerais.

Na delação, Delcídio reproduziu diálogo que teria tido com o então presidente Lula durante uma viagem a Campinas (SP). Na viagem, Delcídio teria ouvido de Lula uma pergunta sobre quem seria Dimas Toledo, na época diretor da estatal Furnas.

“Um profissional do setor elétrico. Por que o senhor pergunta isso?”, teria afirmado Delcídio. Ao que Lula teria explicado: “É porque o Janene veio me pedir pela permanência dele, depois o Aécio e até o PT, que era contra, já virou a favor da permanência dele. Deve estar roubando muito”, teria afirmado Lula, de acordo com o relato da revista.

Delcídio é o segundo delator a relacionar Aécio a Dimas Toledo, ex-diretor de Furnas. O lobista Fernando Moura, ligado ao PT, afirmou em depoimento ao juiz Sérgio Moro que Furnas era uma estatal controlada por Aécio, cujo indicado para a diretoria foi escolhido por ele e aceito pelo governo Lula.

Segundo ele, haveria na estatal um esquema de propina com a conivência de Toledo, semelhante ao instalado na Petrobras. “É um terço São Paulo, um terço nacional e um terço Aécio”, disse Moura no depoimento. Em nota, Aécio negou a indicação e disse que se tratava de “velha tentativa de vincular o PSDB aos crimes cometidos no governo petista”.

ARCO DE INFLUÊNCIA

O senador também afirma ter sido testemunha da ação de senadores do PMDB como Renan Calheiros, Romero Jucá (RR), Edison Lobão (MA), Jader Barbalho (PA), Eunício de Oliveira (CE) e Valdir Raupp (RR) “para emplacarem os principais dirigentes” de órgãos reguladores como ANS e Anvisa.

De acordo com Delcídio, os senadores exerciam amplo arco de influência no governo, que incluía órgãos como o Ministério de Minas e Energia, Eletrosul, Eletronorte, diretorias de Abastecimento e Internacional da Petrobras além das usinas de Jirau e Belo Monte.

Segundo o senador, empresas de Eunício Oliveira “prestavam e ainda prestam serviços terceirizados à Petrobras e a várias ministérios, através de contratos milionários”.

Peemedebistas citados na delação do ex-líder do governo no Senado Delcídio do Amaral negaram as acusações do ex-petista de que fizeram indicações para agências reguladoras e, se fizeram, se deu em troco de benefícios.

O vice-presidente da República e presidente do PMDB, Michel Temer, afirmou não ser próximo de João Henriques, que foi da BR-Distribuidora e preso na Lava-Jato. Em nota, Temer, via assessoria, afirmou: “Não tem qualquer relação de proximidade com João Augusto Henriques. Nunca autorizou a utilização de seu nome em qualquer relação com esse senhor”.

A assessoria de Aécio Neves afirmou que “em relação à Furnas, trata-se de uma requentada tentativa de envolver sem qualquer comprovação diversos políticos da oposição”. Com relação à suposta interferência na CPI dos Correios, o presidente do PSDB afirma que o senador Aécio Neves sequer estava no Congresso Nacional e jamais manteve contato com o senador Delcidio para tratar desse ou de qualquer outro tema.

“A matéria publicada pela revista IstoÉ traz citações ao nome do senador de forma indireta. Não há sequer uma acusação formulada”.

O senador Romero Jucá (PMDB-RR), outro citado, afirmou, em nota, não ter conhecimento do teor da acusação e que sua posição de oposição ao governo é conhecida. O senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) afirmou ser de conhecimento público que apoiou um nome para a Anvisa, mas disse se tratar de pessoa séria.

Eunicio fez sua defesa.

— Apoiei publicamente a indicação de um funcionário de carreira da Anvisa, sobre o qual não pairam dúvidas profissionais ou éticas. Não responderei ao senador Delcidio, uma pessoa que se autointitula bravateiro.

Romero Jucá, em nota, negou ter feito indicações para ANS e Anvisa e afirmou que “é de conhecimento de todos a posição crítica do senador Romero Jucá ao atual governo. O senador estará sempre pronto e à disposição para esclarecer qualquer insinuação que se faça a sua pessoa”.

A assessoria do senador Valdir Raupp (PMDB-RO) declarou que o parlamentar ficou estarrecido e surpreso com as acusações de Delcídio. Raupp negou ter feito qualquer indicação para o setor elétrico. A assessoria do senador ressaltou que a delação do petista está sendo questionada pela própria defesa dele. Raupp declarou que essa delação não tem credibilidade alguma.


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