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Foto mostra investigado da Máfia das Merendas contando dinheiro

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SÃO PAULO – Uma foto apreendida pela Polícia Civil no celular de Carlos Luciano Lopes mostra o ex-vendedor da Cooperativa Agrícola Familiar (Coaf) contando dinheiro referente a propina, de acordo com as investigações da Operação Alba Branca. A empresa, um dos principais alvos da Máfia das Merendas, cobrava preços superfaturados de alimentos para a rede estadual de ensino de São Paulo e a 22 prefeituras do estado para beneficiar políticos e servidores, principalmente ligados ao PSDB.

Em depoimentos ao Ministério Público a que o Jornal Hoje, da TV Globo, teve acesso com exclusividade, Lopes e Emerson Girardi, outro ex-funcionário da cooperativa, confirmam a venda de produtos com sobrepreço para as prefeituras de Americana e Campinas. Os dois estava entre os 14 presos na operação, que já foram soltos.

Lopes, que aparece na foto contando bolos de notas de R$ 50, R$ 20, R$ 10 e R$ 2, disse que, em Americana, a fraude era gritante, pois a Coaf prometia fornecer arroz e feijão, gêneros alimentícios que sequer produziam. Em seu depoimento, obtido pelo repórter Wallace Lara, Girardi disse que o pacote de 5 kg era cobrado a R$ 25, quando o preço não chegava R$ 5 a no atacado. Girardi disse que o valor pago pela prefeitura virou piada. Procurado pelo GLOBO, o ex-vendedor riu ao telefone.

– Não tenho nada a dizer, mas obrigado pela ligação – ironizou Girardi.

Ele também contou que o suco de 200mL era vendido à prefeitura por R$ 1,89 na época em que custava R$ 1,25 no mercado. Girardi disse que Cássio Chebabi, ex-presidente da cooperativa, assinava cheques em nome da Coaf e sacava vultuosas quantias, totalizando cerca de R$ 400 mil. Ele admitiu ter recebido comissão entre R$ 60 mil e R$ 75 mil.

A prefeitura de Americana alegou, por meio de nota de sua assessoria de imprensa, o contrato de R$ 309 mil com a Coaf vigorou apenas em 2014, durante a gestão Diego De Nadai, prefeito do PSDB, cassado ano passado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) por improbidade administrativa, ao criar 233 comissionados. O PSDB de São Paulo informou que apoia integralmente as investigações e “espera que os culpados sejam identificados e exemplarmente punidos”.

Também através de nota, a prefeitura de Campinas informou que o contrato com a Coaf foi fechado em 2012, na gestão anterior. “Na atual gestão, um novo contrato foi fechado com a Cooperativa Agropecuária Dourados, após regular procedimento de chamamento público, em 2014, com redução no valor de 22% (era R$ 1,89 e passou para R$ 1,55) em relação ao contrato anterior. A prefeitura de Campinas colabora com as investigações e é a maior interessada no esclarecimento dos fatos”, diz o comunicado.

O GLOBO não conseguiu contato com Carlos Luciano Lopes e Cássio Chebabi nem com seus advogados. Na quarta-feira, o líder do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), José Zico Prado, disse que o partido já conseguiu 23 das 32 assinaturas necessárias para instalar a CPI das Merendas.

Presidente da Alesp é acusado de receber propina em campanha

Após ser acusado pelo lobista Marcel Ferreira Julio de ter recebido propina em sua campanha, o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), Fernando Capez, alegou que que seu nome está sendo usado indevidamente, “para inserir cunho político eleitoral à Operação Alba Branca”. Mensagens entre os dirigentes da Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf), às quais a Polícia Civil teve acesso, mostram que eles combinaram o pagamento de propina durante a campanha de 2014, quando Capez foi eleito deputado. As conversas datam de 8 de maio de 2015. Os pagamentos teriam acontecido depois da campanha.

Marcel Ferreira Julio, lobista que atuou no esquema de desvios de merenda escolar e fez delação premiada, afirmou que o presidente da Alesp era destinatário de parte da propina. O depoimento de Ferreira está sob sigilo, segundo determinação da Justiça. Segundo o lobista, ele tratou do pagamento de propina com dois assessores de Capez. Os servidores teriam dito ao delator que a propina era destinada a fins eleitorais.

O nome dos assessores são Jéter Rodrigues Pereira e Merivaldo dos Santos. Um auxiliar ainda próximo ao tucano, Luiz Carlos Guttierez, conhecido como Licá, também foi envolvido no esquema pelo delator. Em seu depoimento, Marcel disse que, durante um encontro para tratar da propina, Capez a esfregar o indicador e o polegar da mão, rindo: “Não esquece de mim, hein, estou sofrendo em campanha!”. Para o lobista, isso deixou claro que o presidente da Alesp queria dinheiro.

Em outro trecho da delação, Marcel afirmou que, num dos encontros, Jéter Rodrigues Pereira, ex-assessor do tucano, o chamou na Assembleia para conversar . “Eu fui até lá, quando ele me disse: ‘você viu lá a publicação, tudo como combinamos? Agora precisamos falar de valores. Eu quero 2% do contrato e no total nós queremos, tirando os meus 2%, mais R$ 450 mil para ajudar na campanha do deputado Capez’”, disse o lobista.

Confira a íntegra da nota divulgada pela assessoria de Capez:

“O deputado Fernando Capez ressalta que, como já se tornou público e notório, aproveitaram-se do uso indevido do seu nome para inserir cunho político-eleitoral à Operação Alba Branca.

A apuração legítima e isenta da Controladoria-Geral da Administração demonstrou que não houve fraude nos contratos com a Secretaria Estadual da Educação. Da mesma forma, e como era de se esperar, claro ficou que o deputado Capez não teve qualquer participação ou influência na celebração desses contratos.

Não recebeu qualquer valor ou bem material para uso na sua campanha e todas as suas contas foram aprovadas. Se receberam dinheiro ou bem, foi em proveito próprio, sem seu conhecimento. Sempre esteve à disposição das autoridades para colaborar com as investigações. Já existe procedimento interno na Assembleia Legislativa para total apuração de participação dos funcionários. Foi o primeiro a assinar o pedido para criação de CPI sobre o assunto.

O deputado Capez deseja que tudo seja rapidamente esclarecido, porque não tem nada a temer. Que os culpados sejam severamente punidos.

Qualquer outra ação ou acusação não traduz a verdade real dos fatos e, como já informou, no início, elas são trazidas de maneira estranha, leviana e carregadas de más intenções políticas.


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