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Ex-secretário do PT e Ronan Maria Pinto são presos na Lava-Jato

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SÃO PAULO e CURITIBA – O ex-secretário geral do PT Sílvio Pereira e Ronan Maria Pinto, dono do jornal Diário do Grande ABC, foram presos na manhã desta sexta-feira na 27ª fase da Operação Lava-Jato. Os dois tiveram prisão temporária decretada pelo juiz Sérgio Moro. O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o jornalista Breno Altman, do site Brasil 247 e ligado ao ex-ministro José Dirceu, foram alvos de condução coercitiva. Cinquenta policiais federais cumprem ainda oito mandados de busca e apreensão nos municípios de São Paulo (3 mandados de busca), Carapicuíba (1), Osasco (1) e Santo André (3), todos na Grande São Paulo. A 27ª fase foi batizada de Operação Carbono 14, em referência a procedimentos utilizados pela ciência para a datação de itens e a investigação de fatos antigos.

Segundo o procurador Diogo Castor de Mattos, Ronan Maria Pinto foi o beneficiário final de metade do empréstimo de R$ 12 milhões retirado para o PT, em nome do pecuarista José Carlos Bumlai, no Banco Schahin, quitado fraudulentamente depois que uma das empresas do Grupo Schahin fechou contrato de US$ 1,6 bilhão com a Petrobras para a sonda Vitória 10000, em 2007.

Sílvio Pereira é suspeito de ter arquitetado o empréstimo para entregar o dinheiro ao empresário do ABC paulista. Delúbio Soares participou da reunião no banco Schahin em que foi fechado o empréstimo.

Sílvinho, como é conhecido o ex-secretário do PT, era próximo ao ministro José Dirceu, também preso na Lava-Jato. Segundo o procurador, há suspeitas de que ele tenha sido beneficiado com dinheiro de corrupção da Petrobras. Depois do escândalo do Mensalão, ele teria recebido um “cala boca” para sair de cena e se manter calado. Foi Marcos Valério que acusou Silvinho de ter arquitetado a operação de repasse do dinheiro a Ronan.

– Foi Silvio Pereira quem acionou Marcos Valério para obter o dinheiro – explicou Mattos.

Os primeiros documentos envolvendo Ronan foram apreendidos no escritório da contadora do doleiro Alberto Youssef, que foi atingido hoje por incêndio. Eram contratos de mútuo (empréstimo entre empresas) da S2, do publicitário Marcos Valério, com a Remar Assessoria, do Rio de Janeiro. Em seguida, num segundo contrato do tipo, a Remar repassou o dinheiro para a Expresso Santo André, de Ronan Maria Pinto.

Em novembro passado, a Polícia Federal descobriu que o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, havia retirado empréstimo de R$ 12 milhões no banco Schahin para quitar dívidas do PT. O valor não foi pago. A quitação do empréstimo ocorreu fraudulentamente, quando uma das empresas do Grupo Schahin obteve contrato de UD$ 1,6 bilhão com a Petrobras.

Os presos serão encaminhados para a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba/PR. Delúbio e Altman prestam depoimento na sede da PF em São Paulo. A investigação apura crimes de extorsão, falsidade ideológica, fraude, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro.

Dos R$ 12 milhões emprestados do banco Schahin, R$ 5,7 milhões foram repassados a Ronan. O restante teria sido usado para pagar dívidas de campanha do PT para a Prefeitua de Campinas.

Em setembro de 2012, o publicitário Marcos Valério, condenado a 40 anos de prisão no esquema mensalão, contou à Procuradoria-Geral da República (PGR) que o ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira o havia procurado em 2004 pedindo ajuda, porque Lula e os ex-ministros José Dirceu e Gilberto Carvalho estavam sendo chantageados por Ronan Maria Pinto. O empresário teria pedido R$ 6 milhões em uma reunião com Pereira e Valério para comprar um jornal. Segundo Valério, que tentava um acordo de delação premiada com a Justiça, Pereira disse que o valor havia sido obtido por Bumlai junto ao Schahin e repassado ao empresário.

– Havia corrupção na Prefeitura de Santo André e Ronan Maria Pinto teria participado do esquema. Foi inclusive condenado em primeira instância – afirmou o procurador Diogo Castor de Mattos, do Ministério Público Federal.

Mattos afirmou que eventuais provas deverão ser compartilhadas com a polícia paulista nas investigações sobre o assassinato de Celso Daniel, então prefeito do município de Santo André (SP).

– Nosso objetivo é esclarecer a lavagem de dinheiro – disse Mattos.

O lobista Fernando Soares, o Baiano também disse, em depoimento de delação premiada, que ouviu de terceiros que o empréstimo “teria sido tomado para pagar chantagem que o presidente Lula estaria sofrendo”.

O procurador afirmou, porém, que não há nada de conclusivo que ligue o pagamento de R$ 5,7 milhões a Ronan Maria Pinto e o assassinato de Celso Daniel.

– Tudo é conjectura, nada é comprovado. Por or,a todas as hipóteses permanecem em aberto.

A assessoria de imprensa de Ronan Maria Pinto afirmou que o empresário sempre esteve à disposição das autoridades para esclarecer “com total tranquilidade e isenção as dúvidas e as investigações do âmbito da Operação Lava Jato” e que se ofereceu “de forma espontânea” para prestar as informações. Informou que ele vai reafirmar que não tem relação com os fatos mencionados e que está sendo vítima de uma situação que “poderá ser esclarecida de uma vez por todas”.

“Todas as denúncias que o envolveram ao longo dos anos foram ou estão sendo investigadas e Ronan Maria Pinto vem sendo defendido e absolvido. A mais recente, uma sentença de primeira instância, onde houve condenação, encontra-se em grau de recurso”, afirmou em nota. Em novembro do ano passado, o empresário foi condenado a 10 anos e quatro meses de prisão por ter participado de um esquema de corrupção no setor de transportes na prefeitura de Santo André entre 1999 e 2001.

Um relatório da Receita Federal, datado de 11 de novembro e anexado ao processo da Justiça Federal de Curitiba, revela que há “grande possibilidade de que o real destino deste valor de cerca de R$ 12 milhões (…) teria mesmo de fato beneficiado, ao final, o cidadão Ronan Maria Pinto na aquisição em 2004 de 100% das ações do Diário do Grande ABC S/A”. A análise dos impostos de renda de Ronan indicaram “dívidas suspeitas”, segundo a análise do perito da Receita.

Para comprar parte das ações do Diário do Grande ABC, Ronan fez empréstimos de duas empresas de que ele mesmo é sócio: a Rotedali e a Expresso Nova Santo André. Embora tenham sido feitos em 2004, as duas dívidas não haviam sido inteiramente quitadas até 2014, ainda de acordo com a análise dos impostos de renda. O perito sugere que os fatos sejam melhor investigados, pois, na opinião dele, as dívidas não pagas poderiam ter servido para “dissimular a real origem dos recursos utilizados” na compra do jornal, que poderia ser o dinheiro de Bumlai.

Breno Altman, levado coercitivamente a depor nesta operação, segundo a investigação, também foi citado por Marcos Valério. Ele teria providenciado pagamentos de multas a Enivaldo Quadrado, subordinado do doleiro Alberto Youssef flagrado no mensalão em irregularidades na corretora Bônus Banval.

– Os personagens se repetem. O pagamento a Enivaldo Quadrado foi feito pelo Altman até 2013, 2014. Enivaldo Quadrado confirmou que foi o PT quem pagou parte da multa a que ele foi condenado no Mensalão – diz o procurador.


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