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Ex-secretária da Odebrecht diz que Mônica Moura recebeu propina

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SÃO PAULO – Em acordo de delação premiada, a ex-secretária da Odebrecht, Maria Lúcia Tavares, confirmou o pagamento de propina para Mônica Moura, mulher do marqueteiro do PT João Santana, presos na 23ª fase da Operação Lava-Jato. As revelações feitas por Maria Lúcia sobre a contabilidade paralela da empresa colaboraram para a deflagração da 26ª fase da Operação Lava-Jato, nesta terça-feira.

Em depoimento à força-tarefa, Maria Lúcia detalhou o fluxo de dinheiro no chamado “Setor de Operações Estruturadas”, que, para os investigadores, era um setor exclusivo para controlar o pagamento de vantagens indevidas. Ela diz que viabilizava a entrega de recursos em espécie a pessoas indicadas por Fernando Migliaccio, suposto responsável pela autorização dos pagamentos.

Ela diz desconhecer quem eram os beneficiários finais da propina, com exceção do codinome “Feira”, que se tratava de Mônica Moura. Os pagamentos para Mônica eram constantes e foram feitos por aproximadamente dois anos. “Que conheceu o codinome Feira porque um dia surgiu nas planilhas de requisição de pagamentos e Hilberto Silva entregou para a declarante um cartão contendo o nome de Mônica Moura e os telefones dela”, diz um trecho da delação.

Maria Lúcia diz que Mônica chegou a ir pessoalmente no setor de projetos estruturados na sede da Odebrecht em Salvador para levar dados de um conta dela no exterior para Hilberto Silva. “O codinome Feira indicava endereços variados em mais de uma cidade e com mais de um contato para entrega”, disse a ex-secretária do grupo.

Em uma ocasião, segundo Maria Lúcia, um homem chamado André Santana foi buscar, a mando de Mônica, uma quantia de R$ 500 mil na Odebrecht em Salvador. Para Maria Lúcia, Mônica negou parentesco com André, dizendo apenas que se tratava de um funcionário dela.

A defesa de Mônica Moura disse que ainda não teve acesso aos termos de delação e, por isso, não comentou as declarações de Maria Lúcia.

FUNCIONAMENTO DO ESQUEMA

Maria Lúcia diz que trabalhou seis anos no setor de operações estruturadas até sua extinção entre julho e agosto de 2015, após a prisão do presidente da holding, Marcelo Odebrecht. Entre suas atividades, estavam extrair de um sistema interno planilhas de requisição de pagamentos paralelos.

As planilhas eram feitas semanalmente e continham nome de obras, codinomes de beneficiários e números de requisições. Ela conta que todos os pagamentos deveriam constar no sistema chamado MyWebDay, uma espécie de intranet, que só era utilizada por funcionários do setor e pelos chamados “prestadores de serviço”, operadores que providenciavam o dinheiro de propina. Um deles era Álvaro Novis, da Hoya Corretora, cujas atividades eram registradas sob a alcunha de “Carioquinha”, se o dinheiro fosse entregue no Rio, e “Paulistinha”, se a quantia fosse para São Paulo.

Em alguns casos, Migliaccio dizia a Maria Lúcia que os pedidos de pagamento tinham vindo por “ordem do chefe”, uma referência a Marcelo Odebrecht. Em nota, a Odebrecht informou que “a empresa tem prestado todo o auxílio nas investigações em curso, colaborando com os esclarecimentos necessários”.

Os acertos eram feitos por um outro sistema de informática, chamado Drousy, que foi apagado no final do ano passado. Nele, Maria Lúcia e os demais envolvidos no esquema conversavam por meio de codinomes. Ela, por exemplo, era Tulia. O sistema, no entanto, foi desmontado no primeiro semestre de 2015 por funcionários do setor de informática da Odebrecht.

Inicialmente, Maria Lúcia chegou a dizer que o termo “acarajé” usados em troca de e-mails com os executivos Hilberto Mascarenhas e Roberto Prisco Ramos eram de fato porções de comida. No entanto, no termo de delação premiada, ela afirma que a palavra era utilizada apenas para as entregas de dinheiro destinadas a Ramos, porque ele é baiano.


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