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Ex-assessor do PP é suspeito de lavar dinheiro com compra de joias

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SÃO PAULO. O juiz Sérgio Moro determinou a apreensão de mais de R$ 126 mil em joias compradas pela mulher de João Cláudio Genu, ex-assessor do deputado federal José Janene preso preventivamente nesta segunda-feira na 29ª fase da Operação Lava-Jato. Entre 2013 e 2014, Cláudia Gontijo Resende Genu adquiriu cerca de R$ 200 mil em joias numa joalheria no Lago Sul de Brasília, várias delas pagas em dinheiro, como aneis, colares, brincos e gargantilhas. Para o Ministério Público Federal, as compras podem configurar lavagem de dinheiro de propinas recebidas do esquema da Petrobras.

As joias não foram declaradas pelo casal. Em 2014 ela recebeu R$ 183.647 mil como funcionária da Secretaria de Administração Pública do Distrito Federal e R$ 24 mil em mesada do marido. Genu disse que manteve R$ 96.000,00 de dinheiro em espécie e não houve alteração do saldo em moeda corrente nos anos de aquisição das joias.

A participação de Genu no esquema foi delatada por quatro colaboradores da Lava-Jato. Além do doleiro Alberto Youssef, falaram sobre o ex-assessor do PP Carlos Alexandre de Souza Rocha, Fernando Antônio Falcão Soares e Ediel Viana da Silva. No Mensalão, Genu havia sacado R$ 1,1 milhão de contas de uma das empresas do publicitário Marcos Valério para repassar ao PP. O crime de corrupção acabou prescrito e, após vários recursos, ele acabou sendo absolvido do crime de lavagem de dinheiro. Agora, foi flagrado no esquema da Petrobras.

“Excepcional no presente caso não é a prisão cautelar, mas o grau de deterioração da coisa pública revelada pelos processos na Operação Lava-Jato, com prejuízos já assumidos de cerca de seis bilhões de reais somente pela Petrobras e a possibilidade, segundo investigações em curso no Supremo Tribunal Federal, de que os desvios tenham sido utilizados para pagamento de propina a dezenas de parlamentares, comprometendo a própria qualidade de nossa democracia”, disse Moro ao justificar a prisão preventiva de Genu.

Segundo Youssef, Genu ficava com 5% da propina destinada ao PP nos contratos da diretoria de Abastecimento da Petrobras – 60% iam para o PP, 30% para o então diretor da área Paulo Roberto Costa e outros 5% para doleiro.

‘Vou até as últimas consequências’, ameaçou Genu

Depois da morte do deputado José Janene, Youssef chegou a ser ameaçado por Genu, que achava estar sendo passado para trás depois que o doleiro passou a negociar direto com Paulo Roberto Costa. Por email, Genu faz a cobrança de sua parte nas propinas.

“Prezado, O que esta acontecendo? Não tenho tido sucesso nas coisas que vc trata comigo. Não entendo muito bem porque, sempre procurei te respeitar e considerar. Ainda qdo o finado estava entre nos, a forma de aproximação era grande, o agrado era de todo jeito, se falava em amizade e tu do mais.

Mas ele se foi e tudo que ouvia era da boca p fora. Vc se aproximou do PR. Nao tenho ciúme, mas me sinto traído.

Vc se aproximou das pessoas boas e poderosas que te apresentei, tbm nao sinto ciúme, mas tbm me sinto traído.

Tudo que fizemos e que vc ficou de honrar o que me dá de direito tem sido postergado há quase 2 anos. Não compreendo. Hoje esta poderoso, cortejado por todos, resolve tu do para todos. Mas eu, nao quero nada, só o que me e devido. Nao consigo mais ter confiança em nada que é tratado comigo.

Gostaria de avisar que nao vou abrir mão de nada a que tenho direito, vou até as ultimas consequências (…)”

Youssef afirmou que mesmo depois da saída de Paulo Roberto Costa continuou fazendo pagamentos a Genu, muitos deles por intermédio de Lucas Amorim Alves, sócio dele. Além das joias, Genu aplicou o dinheiro em empresas abertas no nome da mulher e do cunhado. Na contabilidade do doleiro, numa planilha intitulada Transcareca, cujas entregas eram feitas por um agente da Polícia Federal, Genu aparecia também com os apelidos de Mercedão e Gordo. Também eram dirigidas a eles as remessas para “João” e “Ronaldo”. Nela aparecem remessas de 125 mil euros e cerca de R$ 2,9 milhões.

Carlos Alexandre de Souza Rocha, o Ceará, um dos responsáveis pelas entregas de dinheiro, disse ter entregado a Genu R$ 300.000,00. O Posto da Torre, do doleiro Carlos Chater, já condenado na Lava-Jato. Um dos funcionários do posto confirmou que pelo menos R$ 97 mil registrados na contabilidade paralela do posto foram entregues a emissários de Genu em 2012.

O delator Fernando Falcão Soares, o Baiano, também contou ter feito pagamentos a Paulo Roberto Costa por meio de Genu.

Genu demonstrou desprezo à lei, diz Moro

“A prova do recebimento de propina mesmo durante o processamento da Ação Penal 470 reforça os indícios de profissionalismo e habitualidade na prática do crime, recomendando a prisão para prevenir risco à ordem pública”, disse o juiz no despacho.

Moro ressaltou que, embora não fosse funcionário público quando foi beneficiado pelo esquema na Petrobras, Genu deve responder como partícipe do crime de corrupção passiva. No caso de recebimento de dinheiro em espécie, a compra de bens configura ocultação e dissimulação de patrimônio, um ato de lavagem.

O juiz afirmou ainda que, o fato de continuar a receber propinas da Petrobras mesmo processado no caso do Mensalão, mostra “acentuada conduta de desprezo não só à lei e à coisa pública, mas igualmente à Justiça criminal e a Suprema Corte”.

“Enquanto os eminentes Ministros discutiam e definiam, com todas as garantias da ampla defesa, a responsabilidade de João Cláudio de Carvalho Genu pelos crimes, o próprio acusado persistia recebendo vantagem indevida decorrente de outros esquemas criminosos, desta feita no âmbito de contratos da Petrobras”, disse Moro.


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