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Estabilidade e avanço da inclusão social são pautas-chave para Temer

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RIO – A recuperação é possível e virá. Esta é a primeira certeza a reconquistar, antes de encarar a enorme lista de tarefas dos próximos anos. O governo Dilma provocou a devastação econômica com as reformas não feitas, as lições desprezadas, os erros repetidos. Ao sair, lega inflação acima da meta, recessão de 8% em dois anos, despesas públicas que são, no mínimo, R$ 100 bilhões maiores que a receita, e desemprego crescente.

Quando assumiu o Ministério da Fazenda no primeiro governo Lula, o ministro Antonio Palocci disse: “eu não quero errar erro velho”. Mas foi exatamente o que a presidente fez, ao longo de uma década. Quando Dilma se fortaleceu no governo, a partir de 2005, a política econômica da administração petista deixou a prudência dos primeiros anos e enveredou pela aventura de revisitar o passado. E o país retrocedeu.

Receita civilizatória

O Brasil cumpriu uma agenda civilizatória, desde os anos 1980, que teve três grandes etapas: redemocratizar, estabilizar e incluir. Forças adversárias — por que não dizer, inimigas — no quadro político nacional fizeram trabalho complementar para o progresso brasileiro. Grupos diversos lutaram, cada um a sua maneira, contra a ditadura. E venceram. Foi na democracia que se curou a hiperinflação indexada, deixada pelo governo militar. As políticas de inclusão dos pobres e extremamente pobres só foram possíveis na era do Real, mas ganharam musculatura nos governos petistas. A chave do sucesso que tivemos, e voltaremos a ter, é não abrir mão de qualquer item dessa agenda de avanços. Até porque há muito mais a fazer.

O PT errou ao jamais valorizar a estabilidade econômica. As outras forças políticas errarão se não entenderem que as políticas de redução da pobreza, inclusão de pobres e ascensão de negros e mulheres são parte da modernização do país. A recessão e o desemprego anulam parte da inclusão, mas é preciso melhorar as políticas sociais, e não abandoná-las.

Assim que passou o susto dos primeiros anos de governo, o PT voltou a executar a política econômica na qual acredita. Curioso é ver na presidente Dilma a principal defensora da repetição das escolhas econômicas do governo militar, que ela tanto combateu. O governo do PT foi intervencionista na economia, ampliou as estatais, usou o BNDES para transferir dinheiro público para grandes empresas, construiu usinas hidrelétricas gigantes na Amazônia, com desprezo pelo meio ambiente. Tudo isso saiu diretamente do ideário econômico do governo militar. E nele, por ironia, Dilma acredita. O PT e o PCdoB também.

Não há qualquer garantia de que o governo Michel Temer tenha noção da profundidade da crise econômica e saiba como lidar com ela. Por isso nada está garantido sobre a correção de rumo necessária neste momento. Há ministros que saíram de um governo para o outro. Servirão ao governo que nascerá hoje, com as mesmas convicções que serviram à administração que agoniza. Mas farão discursos como se recém-chegados fossem e como se sempre tivessem sido oposição.

O ideal é que, nesse tempo curto que terá pela frente, o vice-presidente Michel Temer preste menos atenção às miudezas da política e consiga ver a grandeza da tarefa que o país precisa que seja executada. O Brasil não tolerará a repetição do uso da máquina, sustentada pelos nossos impostos, pelos novos ocupantes do poder.

Combate à corrupção

O Brasil continua sendo o que sempre foi. Um país de enormes possibilidades. Tem uma soma impressionante de vantagens e um patrimônio exuberante para seu projeto no século XXI. É o país com a maior biodiversidade do planeta, grande produtor de alimentos, segunda maior reserva de água doce do mundo, maior potencial de energia renovável por quilômetro quadrado, com uma população que não é grande demais que seja um peso, nem pequena demais que seja um limitador. É espantoso que, tendo tanto, o Brasil esteja em tão grande enrascada. Foi o resultado das manhas e artimanhas de um projeto equivocado.

Das etapas civilizatórias, estamos cumprindo outra, complexa e dolorosa: o combate à corrupção. O alvo da Lava-Jato e de outras operações é muito maior do que apenas um partido. O país luta, com suas instituições, por princípios e valores que são condição incontornável do progresso. O grupo político que não entender isso perderá o poder.


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