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Em clima de revolta, menino morto por policiais é enterrado em SP

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SÃO PAULO – Em clima de revolta dos familiares, foi enterrado na manhã deste sábado no cemitério São Luiz, na Zona Sul de São Paulo, o corpo da menino Ítalo de Jesus Siqueira, de 10 anos, morto pela Polícia Militar no Morumbi, também na zona Sul da capital, na noite da última quinta. O menor estava dirigindo um carro que teria sido roubado, foi baleado e morreu na hora. Um outro garoto de 11 anos que estava com Ítalo no veículo foi detido, sem oferecer qualquer resistência, segundo os policiais.

Revoltados, parentes e amigos, que preferem não se identificar, cobraram agilidade nas investigações. Eles se uniram para pagar cerca de R$ 800 pelo enterro. Vizinhos da mãe desembolsaram R$ 400 para alugar um ônibus, que os levou do Morro do Piolho, em Campo Belo, Zona Sul da capital, até o cemitério São Luiz, na mesma região.

– Ele aprontava, às vezes não obedecia a mãe, mas era um menino doce. A única coisa que fazia de errado era pegar a bicicleta dos outros, mas devolvia. Eram de pessoas dali da comunidade mesmo. E, quando sentia fome, pegava as frutas na feira. Mas arma? Assalto? Nunca – defendeu uma prima.

– Dei um último abraço nele no Natal – lembra, sem conter as lágrimas.

A família contesta a versão da PM de que Ítalo foi morto após troca de tiros com os policiais. Os policiais afirmaram que encontraram um revólver calibre 38 no carro. Em um primeiro depoimento, o menino de 11 anos contou que o amigo deu dois tiros enquanto dirigia o carro, e um terceiro após colidir com um ônibus. Ítalo teria sido baleado nessa troca de tiros.

Depois, mudou a versão e disse os tiros foram disparados durante o trajeto e não depois da batida. Disse também que um policial chegou próximo ao veículo, pulou da moto e atirou na cabeça de Ítalo. O advogado Ariel de Castro, membro do Conselho estadual de direitos humanos, que acompanhou o segundo depoimento do menino, disse que “pode ter ocorrido uma execução”, já que não houve confronto.

A família não acredita que a dupla tenha saído para assaltar e afirma que a criança nunca pegou numa arma e nem sabia dirigir.

Trêmula e sem desgrudar do caixão onde estava o filho, a mãe, Cintia Ferreira, de 29 anos, não dorme desde o ocorrido. Repete insistentemente que quer o menino se volta. A avó paterna, que cuidava do menino, desmaiou durante o enterro e precisou ser amparada.

O menino passou a maior parte da vida morando com a avó paterna. A mãe dele cumpriu pena de cinco anos por roubo. O pai está preso por tráfico e, dizem os parentes, será solto ano que vem. O padrasto, pai de duas de seus quatro irmãos – um de 13, um de 8, e duas meninas, de 2 anos e uma de cinco meses – também está preso, segundo uma parente, “por problema na documentação do carro”. Nesse contexto, dizem os familiares, o menino acabou caindo em “conversas erradas”.

– Quando ele fez sete anos começaram alguns problemas. Ele até tomava calmante, não queria mais ir para a escola. Ia para abrigos e não ficava, mas não significa que era bandido. Os pais fizeram tudo que podiam – explicou uma outra parente.


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