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Dirceu levou 25% de propina paga por empresas que procuraram Petrobras, afirma Força-Tarefa da Lava-Jato

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CURITIBA e SÃO PAULO – Ao detalhar, em entrevista coletiva nesta terça-feira a 30ª fase da Operação Lava-Jato, em Curitiba, a força-tarefa disse que as empresas envolvidas procuraram operadores e diretores da Petrobras para receber vantagens, citou o ex-ministro José Dirceu, já condenado a 23 anos na Lava-Jato, o ex-diretor da estatal Renato Duque e “seu grupo político” como beneficiários da propina e fez declarações para pressionar o Congresso a aprovar medidas que combatam a corrupção no Brasil.

Foram 28 mandados de busca e apreensão, realizados no Rio e em São Paulo, dez de condução coercitiva e dois de prisão preventiva. Os presos são Flávio Henrique de Oliveira e Eduardo Aparecido de Meira, sócios da Credencial, apontada pelos investigadores como uma empresa de fachada para lavagem de dinheiro. Um foi preso na capital paulista e outro em Sumaré, interior de São Paulo. Ambos serão levados a Curitiba.

Nesta fase, foram alvos as empresas fornecedoras de tubos Apolo Tubulares e Confab, além de dois funcionários da Petrobras e operadores financeiros. Os contratos dessas empresas totalizaram mais de R$ 5 bilhões com a Petrobras, e em decorrência desses contratos, foram pagas propinas que totalizaram pelo menos R$ 40 milhões.

Segundo os investigadores, no final de 2009, executivos da Apolo procuraram o operador Júlio Camargo, delator na Lava-Jato, e pediram ajuda para serem contratados pela Petrobras. Camargo, assim, procurou o diretor Renato Duque e o acerto foi firmado. Por um contrato de R$ 462 milhões firmado com a estatal a Apolo pagou propina de um total de R$ 6,7 milhões — “e cerca de 25% desse valor foi redirecionado a Dirceu”, afirmou Roberson Pozzobon, procurador da Lava-Jato.

— Quem primeiro faz a corrupção? Quem oferece a propina ou quem pede a propina? Nesse caso ficou muito claro que os empresários pagaram propinas para prosperar. Parte dela, cerca de 25%, Renato Duque determinou que fosse redirecionado a Dirceu providenciado por Júlio Camargo — disse Pozzobon.

No momento em que houve um represamento de dinheiro, segundo os investigadores, o irmão de Dirceu, Luiz Eduardo, também condenado na Lava-Jato, apontou a Credencial para o recebimento da propina vinda da Apolo Tubulares e da Confab. O dinheiro era pago mediante celebração de contratos ideologicamente falsos com a JD consultoria, empresa do ex-ministro.

O procurador da República Roberson Pozzobon explicou que não há dúvidas de que a Credencial é uma empresa de fachada já que nunca registrou a contratação de funcionários e todo dinheiro que entrava na conta era sacado rapidamente em espécie.

— A empresa revela ser de fachada por uma série de fatores. Recebeu mais de 30 milhões ao longo de 5 anos, mas seu endereço coincide com a residência de um dos sócios. Em pouco mais de 10 anos mudou de objeto social diversas vezes, de fornecimento de bens, como perfumes, passou a empreiteira.

Uma outra frente da Lava Jato investiga se Dirceu recebeu outros valores em propina. Uma terceira empresa, a Interoil repassou dinheiro ao escritório de advocacia Rocha Maia Advogados. Este, por sua vez, enviou R$ 1,2 milhão para a JD Consultoria. A Lava-Jato vai investigar o recebimento de valores da Interoil provenientes da V&M do Brasil, concorrente da Apolo e da Confab.

INÉRCIA DO CONGRESSO

Um outro fator importante da operação de hoje, segundo a força-tarefa, é o nome da operação de hoje: batizada de “Vício”.

— (A operação) revela o quão disseminada é a pratica da corrupção. A corrupção é uma regra nos negócios públicos. Por outro lado, num mesmo cenário calamitoso como esse, o que vemos é uma inércia do Congresso Nacional na aprovação de medidas legislativas que possam reverter esse quadro. Um sistema político e jurídico que deveria estar numa CTI, mas que não há iniciativas legislativas nesse sentido — opinou o procurador, que se referiu às dez medidas de combate à corrupção proposta por seu grupo.

— O Congresso pode escolher ser uma casa de reabilitação e cura para esse sistema corrupto ou ser uma casa que aceite a corrupção como regra. Espero que a primeira via seja adotada — disse Pozzobon.

OUTRO LADO

A Confab informa que não tem evidências de que seus executivos tenham efetuado pagamentos ilegais para a obtenção de negócios com a Petrobras e que está colaborando com a investigação das autoridades.


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