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Deputados pedem que Cunha se afaste da presidência da Câmara

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BRASÍLIA — Logo depois que formou-se maioria no Supremo Tribunal Federal para transformar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em réu, alguns deputados subiram à tribuna para pedir que o parlamentar se afaste da presidência da Casa. O líder do PSDB, Antonio Imbassahy (BA), criticou a demora do Conselho de Ética em abrir o processo contra Cunha, destacando que isso aconteceu em meio a manobras protelatórias, percebidas por todos os brasileiros.

Cunha ouviu o discurso do tucano impassível, olhando para ele, mas assim que o discurso terminou continuou presidindo a sessão, sem dar qualquer resposta. Outros deputados se revesaram na tribuna ressaltando o constrangimento causado pela situação.

— A partir de hoje, lamento, temos o presidente da Câmara investigado pela própria casa, pelo Conselho de Ética, e réu no STF. É um grande constrangimento que todos nós estamos vivendo. Para o PSDB e para a maioria da população, chegou ao limite. Não resta outra alternativa senão o afastamento. Em benefício da democracia, da economia, afirmo e solicito de maneira clara que o presidente Eduardo Cunha renuncie. Será um gesto de grande importância para a nação e poderá impulsionar o afastamento da presidente Dilma Rousseff — afirmou Imbassahy.

No plenário, os demais deputados ouviram em silêncio o discurso do tucano, mas poucos aplaudiram. Assim que desceu da tribuna, Imbassahy foi cumprimentado por colegas tucanos. O líder do PPS, Rubens Bueno (PR), também pediu a saída de Cunha, acrescentando que a situação deixa a Casa em extremo constrangimento. Bueno criticou ainda o fato de Cunha apenas ouvir os discursos e continuar presidindo a sessão, de forma impassível.

— Estamos vivendo um momento único na história da Câmara, que traz um fato histórico negativo que vai ficar marcado para o país ao mostrar a decisão do STF abrindo processo contra o presidente da Câmara. Esse fato traz para todos nós a mesma posição de defender a sua renúncia, e seu imediato afastamento. Não há outro caminho. A Câmara precisa se aliviar. É muito mais constrangedor vir à tribuna e dizer em frente ao presidente, que virar as costas e não olhar no olho —disse Bueno.

Quando Bueno falava, Cunha decidiu olhar e encarar seu discurso.

Depois de vários discursos criticando e cobrando a saída do peemedebista, o deputado Laerte Bessa (PR-DF) saiu em defesa do presidente da Câmara.

— Senhor presidente, estão prejulgando o senhor. Está cheio de juiz nessa Casa. Vossa excelência foi apenas denunciado, não está condenado. Peço respeito —disse Bessa.

O deputado Henrique Fontana (PT-RS), também cobrou a saída de Cunha. Fontana disse que falava em nome do líder do PT, Afonso Florence (BA), que em entrevista no Salão Verde cobrou que o presidente da Câmara deixe o cargo.

O primeiro deputado a discursar pedindo a saída de Cunha foi Glauber Braga (PSOL-RJ):

— O Supremo Tribunal Federal já tem maioria pelo acolhimento da denúncia. É uma demonstração clara de que a partir desse momento não pode haver um processado pelo STF que esteja na linha sucessória da presidência da República, fora as ações para impedir o funcionamento do Conselho de Ética, fora as manobras realizadas na própria Câmara e, agora, com acolhimento da denúncia, me dirijo a vossa excelência, deputado Eduardo Cunha, não existe mais possibilidade de o senhor permanecer à frente da presidência da Câmara. Vossa excelência tem direito à defesa, mas a permanência à frente da presidência prejudica inclusive sua própria defesa, porque está claro a utilização da presidência, no que diz respeito ao andamento do processo, fato já dito pelo procurador-geral da República ao STF.

O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) também pediu o afastamento de Cunha e criticou o “ambiente de omissão e silêncio” dos demais colegas.

— É preciso que a Câmara tome tenência, observe que isso nos diz repeito e nos leva ao patamar mais baixo da representação popular, se continuarmos nesse ambiente de corporativismo. Cunha não nos representa e não pode presidir a Câmara. Agora ele vai se tornar réu. Ter o presidente da Câmara nessas condições é uma vergonha para a república brasileira — disse Alencar, acrescentando:

— Há um ambiente de omissão e silêncio. Temos que nos manifestar ou então vamos considerar que o Supremo não tem sabedoria para julgar mais nada, porque aquilo que nos diz respeito não nos move. Chamo os deputados para se manifestar.

O líder da Rede, Alessandro Molon (RJ) disse que Cunha não tem mais condições morais e políticas de presidir a Câmara e deveria se afastar. Molon lamentou o fato de o regimento interno não tratar do processo de afastamento do presidente da Casa e cobrou que Cunha tome a iniciativa de se afastar do cargo. Molon destacou ainda que a expectativa é de que o Supremo aprecie, rapidamente, o pedido do procurador geral da República, Rodrigo Janot, que pediu o afastamento de Cunha do mandato e do cargo.

— Nossa expectativa recai no processo de cassação e na análise do pedido de afastamento no STF. A nossa expectativa é que o presidente da Casa, para preservar a Casa desse constrangimento, se afaste da presidência, para responder a esses dois processos. Isso impediria a todos nós de enfrentarmos uma situação como essa. O deputado Cunha deveria se afastar enquanto durar esse processo. Gostaria que vossa excelência se afastasse. Nós pedimos isso em defesa da democracia, do nosso mandado e do parlamento — disse Molon.


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