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Convencido a desistir do ‘test drive’ na Câmara, Maranhão fala em democracia

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BRASÍLIA – Alçado à presidência da Câmara em 1993, o ex-deputado Inocêncio de Oliveira tinha um problema muito o incomodava quando ia presidir as sessões e dar entrevistas: era gago. Procurou ajuda especializada e com um tapa na perna, conseguia entabular as falas e exercer bem a presidência da Casa. Interino na presidência da Câmara com o afastamento do presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o deputado Waldir Maranhão (PR-MA) vem treinando com aliados há 33 dias para exercer plenamente a presidência. Mas, no seu caso, não houve treinamento que desse jeito. No seu “test drive” nesta quarta-feira , diante da rebelião da oposição e governo contra seu comando, mostrou que continua monossilábico e alheio ao embate no plenário.

Para desespero dos líderes do governo que pretendem votar hoje o segundo turno da proposta de emenda à Constituição (PEC) de Desvinculação de Recursos Orçamentários (DRU), o caos foi instalado no plenário, e Maranhão se limitava a balançar a cabeça com olhar perdido e passar a palavra ao próximo orador. Com a revolta de aliados, que se negaram a votar a DRU e outras matérias, o líder do governo André Moura (PSC-SE) o convenceu a ir almoçar e só voltar depois da votação da complicada pauta governista. A informação que Maranhão decidiu exercer plenamente sua interinidade da presidência da Casa foi repassada aos líderes pelo 2º vice-presidente , Fernando Giacobo (PR-PR), que vinha presidindo os trabalhos.

Os líderes da base esperam manter Maranhão afastado da presidência para votar hoje o segundo turno DRU e o requerimento de urgência do projeto que trata da lei de responsabilidade dos fundos de pensão. Duas matérias polêmicas. O PT e os partidos que apoiam a presidente afastada Dilma Rousseff prometem obstruir.

— Está muito complicado. Mas eu o convenci a encerrar a sessão e quando voltar o Giacobo vai presidir. Ele volta depois — disse o líder André Moura.

— Isso aqui virou uma zona. O Maranhão não fala nada, só balança a cabeça — constatou o líder da Minoria, José Guimarães (PT-CE).

O líder do PPS, Rubens Bueno (SP), deu nota zero para a estreia hoje de Maranhão, e avisa ao governo que enfrentará muitas dificuldades se ele resolver presidir as sessões nas votações das reformas e matérias polêmicas que vem ai pela frente enviadas pelo presidente interino Michel Temer.

— Nota zero. Olha a tragédia que vivemos no Parlamento. Que loucura chegar a esse ponto. O governo que se vire, com ele nós não vamos votar nada — avisou Bueno.

Os líderes do PSDB, Antonio Imbassahy (BA), e do DEM, Pauderney Avelino (AM) também reagiram à decisão de Maranhão presidir a sessão de votações da Casa. O líder tucano solicitou que os demais líderes assinem o requerimento que permitirá a declaração da vacância da Presidência da Casa. Imbassahy fez apelo enfático ao PT.

Maranhão, desde que assumiu a interinidade presidiu duas sessões na Casa, mas em nenhuma houve votações. A primeira delas, foi no dia do afastamento de Eduardo Cunha da presidência, em que ele apenas abriu a sessão e fechou gerando protesto. Na segunda vez, ele abriu a sessão mas foi alvo de vários discursos críticos e a sessão foi encerrada aos gritos de “fora,fora, fora'”.

No entanto, o presidente interino que aceitou que outros deputados presidindo as votações, solução em que o interino foi apelidado de “Rainha da Inglaterra”. Ele tem comandado reuniões de líderes. Na semana passada, Maranhão estava fora do país em missão oficial, representando a Câmara em evento sobre transparência no Chile. Ao final da nova tentativa malsucedida, Maranhão diz que está disposto a continuar ocupando seu lugar, de direito.

— Passei no teste. Os protestos fazem parte da democracia. É a vida. Vou continuar — disse Maranhão, rindo.


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