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Consequências da ação sobre Lula divide brasilianistas

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WASHINGTON – Pesquisadores que analisam o Brasil acreditam que a ação da Polícia Federal envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode causar mudanças grandes no país. Entre as possibilidades está o fim do PT, um recrudescimento da luta política nas ruas e até uma ameaça às instituições democráticas, um processo parecido com o que viveu a Venezuela há alguns anos. Brasilianistas têm sido cada vez mais procurados por americanos para explicar o momento brasileiro.

Peter Hakim, presidente emérito do Inter-American Dialogue, vê o ambiente político ainda mais polarizado a partir de agora, já afetado pela debilidade da presidente Dilma Rousseff e o imobilismo do Congresso. Ele lembra que Lula já não goza da confiança e popularidade do passado, apesar de ainda ser um líder importante. E que, com isso, o partido, fundamental na história da redemocratização brasileira, pode até estar com os dias contados:

— Os próximos desdobramentos serão decisivos, mas o fato é que hoje o PT tem muito mais problemas que o Partido Republicano, que está em uma encruzilhada com a nomeação de Donald Trump. Sem Lula, só vejo o nome de Jaques Wagner como líder da legenda. Mas seu futuro é incerto, embora temos que lembrar que o PT ainda tem uma base relevante de apoio, que em São Paulo e Minas Gerais é diferente do Nordeste — afirmou.

Ele afirma que o melhor para o país é fazer um grande pacto nacional, com lideranças políticas de todas as vertentes, mas que isso parece, no curto prazo, mais difícil. Hakim confirma que tem sido cada vez mais procurado por americanos interessados em entender a crise política no Brasil.

— O governo americano vê a Venezuela cada vez mais perto do abismo, e na atual situação política o Brasil não pode agregar muito na ajuda ao país vizinho quando o colapso ocorrer. O Brasil hoje não teria condições de aglutinar uma frente de apoio na América do Sul.

Brian Winter, vice-presidente de Política da Americas Society/Conselho das Américas, diz que os próximos dias serão fundamentais para definir o futuro político do país. Ele teme um aumento da intolerância e da violência nas ruas, com consequências nefastas:

— É preocupante ver organizações e pessoas arriscando os avanços institucionais do país, como acusar de perseguição política algo que se refere a uma investigação de corrupção ou exagerar do outro lado. Isso pode levar a uma perigosa perda de conquistas importantes, trilhar um caminho que foi feito pela Venezuela. O Brasil ainda está muito distante do país de Maduro, mas temos que lembrar que, nos anos 1980, a Venezuela era um dos países mais desenvolvidos e democráticos da região — disse.

O americano Peter Schechter, diretor do Atlantic Council, se diz triste com o momento do Brasil, que passa por crise política, econômica, médica e social. Ele também vê o aumento de tensão nas ruas, mas sem riscos institucionais. Pelo contrário: Schechter afirma que as investigações da Lava-Jato terão efeito educativo no país e deveriam servir de exemplo para a região:

— Não vejo risco institucional porque todas as sondagens apontam para um grande apoio popular às investigações.


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