Brasília Amapá |
Manaus

CNBB defende que suspeitas de corrupção sejam apuradas e pede diálogo

Compartilhe

BRASÍLIA — A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) pediu diálogo para que seja possível superar o que chamou de “profunda crise política, econômica e institucional” pela qual passa o país. Para isso, os ânimos não devem ser acirrados, nem a crise política deve ser usada para alimentar a crise econômica. A CNBB pregou também que as suspeitas de corrupção sejam apuradas com rigor e, sem citar nominalmente a Operação Lava-jato, reconheceu a “importância das investigações e seus desdobramentos”. Sustentou ainda que o Congresso Nacional e os partidos políticos têm “o dever ético de favorecer e fortificar a governabilidade”.

— O povo não aguenta mais corrupção. Não podemos conviver com a corrupção, como se ela fosse parte integrante da vida política, da vida do país. É necessário, sim, que os órgãos competentes apurem a corrupção — disse o presidente da entidade, Dom Sergio da Rocha.

“O momento atual não é de acirrar ânimos. A situação exige o exercício do diálogo à exaustão. As manifestações populares são um direito democrático que deve ser assegurado a todos pelo Estado, devem ser pacíficas, com respeito às pessoas e instituições. É fundamental garantir o Estado democrático de direito”, diz trecho da nota da CNBB sobre o momento atual do Brasil, assinada pelo presidente da entidade e também pelo vice, Dom Murilo Krieger, e pelo secretário geral, Dom Leonardo Steiner.

“Vivemos uma profunda crise política, econômica e institucional que tem como pano de fundo a ausência de referências éticos e morais, pilares para a vida e organização de toda a sociedade. A busca de respostas pede discernimento, com serenidade e responsabilidade. Importante se faz reafirmar que qualquer solução que atenda à lógica do mercado e aos interesses partidários antes que às necessidades do povo, especialmente dos mais pobres, nega a ética e se desvia do caminho da justiça”, diz outro trecho da nota.

Questionado sobre a defesa de que o Congresso e os partidos favoreçam e fortaleçam a governabilidade, Dom Sergio da Rocha, respondeu:

— O que nós queremos aqui na verdade é que se garanta sempre a ordem constitucional. Tudo que seja feito, que os encaminhamentos que sejam feitos sempre dentro daquilo da legalidade, da ordem constitucional, do respeito à Constituição. Não há aqui, como já manifestamos em nota anterior, nenhuma posição de nossa parte político-partidária. Pelo contrário. Queremos estar abertos ao diálogo e na busca de soluções, sempre seja através do diálogo do respeito, sem recorrer à agressividade, à violência que não condiz com a própria vida democrática.

O documento foi aprovado durante encontro do Conselho Permanente da CNBB, que se reuniu em Brasília entre terça e quinta-feira. Durante o encontro, foram discutidos temas como o sistema carcerário brasileiro, o saneamento básico e o combate ao mosquito Aedes agypti, transmissor da dengue, chicungunha e zika.

No último domingo, o bispo auxiliar da Arquidiocese de Aparecida, dom Darci José Nicioli, pregou que os fiéis atentem para a luta do “bem contra o mal” e pediu “a graça de pisar a cabeça da serpente”, inclusive “daqueles que se autodenominam jararacas”. Na sexta-feira, após ser alvo da Lava-Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se comparou a uma cobra jararaca para mostrar que resistiria ao que entende ser uma perseguição. Posteriormente, por meio da assessoria da Arquidiocese de Aparecida, o bispo disse: “Livrar-nos das víboras, das jararacas, que são personificação do mal. A interpretação e as aplicações práticas ficam a cargo de cada fiel ouvinte”. Sobre esse episódio, a CNBB não quis se manifestar.

— Não foi objeto aqui do Conselho Permanente. Pronunciamento particular de algum bispo não tem sido tratado como pauta do Conselho, mesmo porque não é papel da conferência episcopal entrar em questões que digam respeito à atuação mais particular de alguns irmãos bispos — disse o presidente da CNBB.

Dom Sérgio Rocha afirmou ainda que o filme “Spotlight” – ganhador do Oscar e que mostra o trabalho de jornalistas que descobriram um esquema de pedofilia na Igreja Católica dos Estados Unidos – pode ser útil para suscitar o debate sobre um tema grave. Ele disse que a CNBB não tem uma posição oficial sobre o filme, mas que ele é tema de muitas conversas entre os sacerdotes.

— A temática dele é muito atual, muito séria, e é claro que precisamos considerá-la seriamente, atentamente. E o papa Francisco já tem insistido nisso. O papa tem sido muito claro nisso, insistindo com os bispos para que tomem iniciativas necessárias para a superação de qualquer situação que viesse a ocorrer, apuração de denúncia, para dar o devido encaminhamento — avaliou o presidente da CNBB.


...........

Siga-nos no Google News Portal CM7