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Avião de Agnelli não passou por testes de segurança da Anac

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SÃO PAULO – Nos registros da Agêncial Nacional de Aviação Civil (Anac), o ex-presidente da Vale Roger Agnelli aparece não apenas como proprietário, mas como operador e até mesmo fabricante da aeronave de matrícula PRZRA, que caiu instantes depois de decolar sobre uma casa na zona norte da capital paulista, por volta de 15h20m de sábado. Sete pessoas, entre elas o próprio Agnelli, morreram na queda. Por ser experimental, o avião, um monomotor turbohélice, não possuía caixa-preta, dispositivo que grava a voz do piloto e os comandos e condições técnicas do avião, não passou pelos testes de segurança da Anac, que garantiriam a capacidade da máquina de voar, nem possuía os seguros contra acidentes de aviões homologados pela agência. A montagem do avião tampouco sofreu algum tipo de supervisão, não existiam gráficos sobre o comportamento da aeronave que poderiam orientar o piloto em caso de emergência e nem um check-list pré-voo.

— Esse avião é como um remédio que não passou pelo teste da Anvisa. Podemos achar que ele cura, mas não temos certeza. Do mesmo jeito, ninguém garante que esse avião vá voar, mas sua operação não é proibida pelo governo porque a ideia do avião experimental é desenvolver a tecnologia. Na origem, era esperado que apenas o cientista voasse em sua máquina feita no fundo de quintal. O problema é que o Brasil passou a produzir industrialmente esses aviões — afirma Jorge Filipe Almeida, consultor da Aeronáutica e ex-investigador do CENIPA.

De acordo com Almeida, das 17 mil aeronaves que voam no Brasil hoje, quatro mil são experimentais. Ainda assim, aeronaves não testadas da capacidade e tamanho do avião de Roger Agnelli são pouco comuns. Há cerca de quatro anos, a Anac passou a proibir a linha de montagem de aviões não testados, cujo preço chega a ser 40% mais baixo do que daqueles com certificação de segurança. Os testes são custosos. Para um avião semelhante ao acidentado no sábado, a Anac cobra em torno de R$2,5 milhões, cerca de 1/4 do preço total da aeronave. Além disso, todos os testes levam até dois anos para serem concluídos.

Técnicos do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aéreo (Cenipa) estiveram no local do acidente na manhã deste domingo para fazer perícia e recolher partes da fuselagem e outros materiais que possam ajudar a elucidar as causas do acidente. Eles esperam ainda obter a comunicação do piloto Paulo Roberto Bau com a torre de comando do aeroporto Campo de Marte, de onde o avião partiu. Para Almeida, no entanto, é grande a chance de que as investigações não se alonguem e nem cheguem a conclusões definitivas.

— No Cenipa é praxe não investigar acidentes com aviões experimentais porque é gasto muito dinheiro com pouco retorno. Como o avião do Roger Agnelli só existia um no Brasil, o dele. Então, o conhecimento que se obtenha com a investigação, não poderá ser aplicado à indústria aeronáutica — diz o consultor.

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, todos os corpos já foram identificados e liberados para que as famílias possam fazer o sepultamento. Ainda não há informações sobre como e onde será o enterro da família Agnelli. Já o corpo de Bau será levado para São Manuel, no interior do estado, a 300 quilômetros da capital paulista, será realizado o enterro.

A Defesa Civil ainda mantém interditada a casa atingida pela aeronave mas já não há mais risco de o sobrado de três andares desabar.

Em nota, a presidente Dilma Rousseff destacou a contribuição de Agnelli à economia do país: “Agnelli dedicou sua carreira profissional a grandes empresas brasileiras, sempre comprometido com o desenvolvimento do País. Perdemos um brasileiro de extraordinária visão empreendedora. Neste momento, manifestamos nossa solidariedade a seus parentes e amigos”, escreveu Dilma.


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