Brasília Amapá |
Manaus

Análise: Fim da lógica do baixo clero?

Compartilhe

Existe uma máxima que diz mais ou menos o seguinte. Fazer projeção sobre o passado já é muito difícil, imagina sobre o futuro? Reconhecer dificuldades em estimativas não é o mesmo que inverter a qualidade de categorias para que elas atendam à nossa previsão. Aí o problema é de outra natureza.

A discussão sobre como será o desempenho do possível governo Temer tem incorrido em algumas imprecisões. A mesma lógica que levou deputados do baixo clero a abandonar a base do governo Dilma será a mesma a pautar o seu comportamento em um novo governo. Práticas centenárias não mudam num passe de mágica. E aqui reside a dificuldade central.

Os deputados do chamado baixo clero são extremamente pragmáticos. Eles fizeram um cálculo. Como o governo Dilma não oferecia perspectivas de poder, muito menos de recursos para bancar projetos em seus redutos, eles pularam do barco. Viram em Temer uma possibilidade maior de sobrevida em um ano eleitoral.

A questão é que o governo, qualquer que seja, será de restrição orçamentária por um longo tempo. Com poucos recursos, fragiliza-se uma das principais ferramentas de mobilização dentro do Parlamento. A outra é distribuir espaço no governo. Esta última, além de depender de como o governo será dimensionado, terá que lidar inevitavelmente com a reduzida capacidade de realização a curto prazo.

Nesse ponto, governos de salvação nacional, como tem sido dito, implicam num alto custo de participação para os deputados de baixo claro e que pesam na votação na Câmara. Eles não jogam para perder. Vão querer estar ao lado de quem oferecer perspectiva, é claro, mas isso não é automático. O desprendimento de recurso material não faz parte da cultura política do baixo clero. Esse grupo é menos dependente do voto de opinião e mais associado às ações locais nos seus redutos eleitorais.

Ou seja, caso se confirme o impedimento da presidente, o governo Temer não terá, necessariamente, maior facilidade de votar projetos na Câmara. O resultado do placar do impeachment não é uma previsão da sua base na Câmara. É uma confirmação de para onde foram os mais fisiológicos, pelo menos a maioria deles, e para onde foi transferido o custo da construção desse apoio. A ver.


...........

Siga-nos no Google News Portal CM7