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Dólar fecha em R$ 3,52 após chegar a R$ 3,67 com anulação do rito de impeachment

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RIO – A inesperada anulação do processo de impeachment na Câmara caiu como uma “bomba” no mercado financeiro no início da tarde desta segunda-feira, fazendo com que, em poucos minutos, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) despencasse 3,49% e o dólar disparasse 4,90%, a R$ 3,677. Ao longo da tarde, porém, consolidou-se entre os investidores — favoráveis à mudança de governo, em sua maioria — a interpretação de que a decisão do presidente interino da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA), não será levada adiante. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), aliás, foi rápido em afirmar que rejeitará o pedido. Assim, os papéis e o real recuperaram parte das perdas nas horas seguintes, embora o tom de cautela permanecesse.

O dólar acabou fechando com alta de 0,54%, a R$ 3,525 para venda. Às 17h05m, a Bolsa perdia 1,58%, a 50.899 pontos.

— O início do dia já era de pessimismo por causa da China, afetando sobretudo Vale e siderúrgicas. Quando essa “bomba” foi soltada no mercado, todas as ações começaram a afundar. As negociações com papéis da Petrobras, que chegou a cair mais de 10%, acabaram várias vezes sendo interrompidas para que se realizasse leilão. Só que, em pouco tempo, acabou consolidando-se a ideia de que a proposta de Maranhão é inviável — contou Leonardo Ramos, sócio da DNA Invest.

Na Bolsa, o pregão despencou às 11h53m, quando começou a ser noticiada a anulação do rito de impeachment pela Câmara. A pontuação mais baixa foi registrada às 12h07m, quando o Ibovespa tocou os 49.907 pontos. Ele permaneceu em patamar semelhante até as 12h21m, quando retomou fôlego, saltando para os 50.581 pontos às 12h25m. Depois disso, a Bolsa assumiu trajetória de recuperação, estabilizando-se em torno dos 51 mil pontos.

— O movimento também foi potencializado pelo fato de que esta é a semana para o mercado de opções sobre ações, cujo vencimento é na próxima segunda-feira. Uma notícia como essa, que mexe com o cenário, acaba levando a fluxos desesperados por parte dos investidores para fazer prevalecer sua estratégia ou evitar uma perda maior — acrescentou Ramos.

‘TRANSIÇÃO DIFICILMENTE SERÁ SUAVE’

A notícia movimentou literalmente o pregão, proporcionando volume de negociação 17% acima da média dos últimos 30 dias. Para Paulo Gomes, economista-chefe da Azimut, o movimento inesperado reacendeu entre os investidores a interpretação de que o afastamento da presidente Dilma Rousseff ainda não pode ser dado como fato plenamente consumado.

— O afastamento da presidente Dilma, apesar de ser dado como muito provável, ainda é uma questão sensível para os investidores. Por isso, qualquer risco à resolução dessa crise política é visto como muito negativo. É preciso lembrar que a Bolsa já havia subido muito nos últimos meses por causa das chances de um impeachment.

Neil Shearing, economista-chefe para mercados emergentes da empresa de pesquisas britânica Capital Economics, observou que a decisão de Maranhão lançou o processo de impeachment “ao caos e deixou o Brasil à beira de uma crise institucional”, sobretudo porque “não está claro o que acontece daqui para frente.”

“Isso mostra (…) como a transição para um governo mais pró-mercado sob o vice-presidente Michel Temer dificilmente será suave, e a reação do Partido dos Trabalhadores (PT) será substancial. Não é nem preciso dizer que os mercados se assustaram”, escreveu o economista em relatório enviado a clientes. “A expectativa do mercado sobre uma transição rápida, que já havia sido contabilizada, parece está sendo esvaziada.”

CHINA INFLUENCIA NO MAU HUMOR

O clima no início do pregão já era negativo como resultado do desapontamento dos investidores com números sobre a economia chinesa divulgados no fim de semana. A queda do petróleo no mercado internacional também contribui para o mau humor do mercado.

As importações chinesas retraíram 10,9% em abril em base anual, para US$ 127,2 bilhões. Foi o décimo oitavo mês seguido de contração. Nos quatro primeiros meses de 2016, as importações caíram 12,8% na mesma base de comparação. Já as exportações recuaram 1,8% no mês passado. O resultado foi um tombo de 5,66% na cotação do minério de ferro na China, para US$ 54,99.

No mercado acionário, as ações ON da Vale despencam agora 9,89% (R$ 15,21), enquanto a PNA cai 8,8% (R$ 12,37).

A Petrobras ON despenca 7,65% (R$ 11,94) e a PN tem baixa de 6,25% (R$ 9,45). Além da questão política, a companhia é influenciada pelo recuo de 3,97% no petróleo do tipo Brent (US$ 43,57). A principal razão para a alta, segundo analistas, é que o incêndio florestal que afetou na semana passada a província de Alberta, no Canadá, não levará à redução da produção do país, como especulava-se.

Além disso, a Petrobras, anunciou hoje ter assinado termo de compromisso para financiamento de US$ 1 bilhão com o China Exim Bank e já iniciou a negociação do contrato definitivo, antecipando captação de recursos prevista para 2017. O financiamento está relacionado a contratos de fornecimento de equipamentos e serviços já firmados pela Petrobras com fornecedores chineses para projetos do Plano de Negócios 2015-2019.

No setor bancário, as ações chegaram a despencar com a reviravolta política mas se recuperaram à tarde. O papel ON do Banco do Brasil segue caindo 1,54%, enquanto o Bradesco PN tem alta de 0,23%. O Itaú Unibanco PN sobe 0,65%.

AÇÕES CHINESAS NO MENOR NÍVEL EM 8 MESES

No mercado internacional, as ações chinesas caíram ao menor nível em oito meses, reagindo à divulgação dos números da balança comercial no domingo. O índice Shanghai Composite recuou 2,8%, enquanto o CSI300 registrou desvalorização de 2,1%.

Na Europa, o fechamento foi misto. O índice de referência Euro Stoxx 50 subiu 0,65%, enquanto a Bolsa de Frankfurt avançou 1,12%. Em Londres, as ações caíram 0,18% afetadas pela desvalorização das commodities. Em Paris, houve alta de 0,50%.

Em Wall Street, a valorização das ações de tecnologia e do setor de saúde sobem compensando a qued ado petróleo. O Dow Jones perde 0,22%, mas o S&P 500 avança 0,22%, e o Nasdaq, 0,27%.


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