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Sem definição do governo, Maracanã vive impasse sobre futuro

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A 37 dias de sediar a cerimônia de abertura da Olimpíada do Rio, o estádio mais famoso do mundo — tornado também um dos mais modernos ao custo de R$ 1,2 bilhão dos hoje dilapidados cofres do Rio — é pivô de um impasse sobre seu futuro: quem tem direito sobre o Maracanã quer passá-lo adiante; quem deseja administrá-lo sofre a desconfiança sobre a capacidade de mantê-lo.

Na última segunda-feira, a Maracanã S. A. (empresa que tem a Odebrecht como sócia majoritária) formalizou ao governo do Rio a intenção de rescindir amigavelmente o contrato de concessão que vigora até 2048. Acumulando prejuízo no estádio de R$ 77 milhões em 2014 e R$ 48 milhões em 2015, segundo seus balanços, a Odebrecht desistiu do negócio.

Nos últimos meses, a Maracanã S. A. chegou a conversar com outras empresas que poderiam assumir a concessão, numa negociação que necessita da aprovação e agradaria ao governo estadual. Os números negativos, e condições consideradas adversas (como a proibição de se erguer empreendimentos comerciais no lugar dos vizinhos Célio de Barros e Julio de Lamare), porém, afugentaram até agora eventuais investidores.

— A única opção que o governo descarta é reassumir o estádio, pelo período que seja. Qualquer outra é possível. Nesta semana, a concessionária formalizou o pleito de rescisão. Estamos estudando se ainda é possível um novo aditivo que mantenha a concessão, se o governo promove outra licitação, com ou sem a participação dos clubes. Em todo o período de renegociação do contrato, em nenhum momento a Maracanã S. A. formalizou proposta de passar a concessão a terceiros — diz Leonardo Espíndola, secretário estadual da Casa Civil.

MANUTENÇÃO MILIONÁRIA

O nó original é o alto custo de manutenção do estádio (estimado em R$ 50 milhões anuais, sem contar os custos de jogos e outros eventos), caro legado da reforma “padrão Fifa” para a Copa do Mundo. Com a premissa de fazer valer o investimento, o governo do Rio quer garantir a preservação e os cuidados com o estádio e é reticente quanto a repassar sua gestão a instituições instáveis financeiramente.

Sabedor do interesse de Flamengo e Fluminense de administrar o Maracanã, o governo desconfia da saúde financeira dos clubes e teme a deterioração do patrimônio no futuro. O estado gostaria que Fla e Flu, na eventualidade de uma nova licitação, se candidatassem em consórcio com um parceiro privado que dê robustez econômica ao pleito.

É mais uma aresta a se aparar. Os clubes pretendem se candidatar conjuntamente a administrar o estádio e rechaçam a ideia de integrar um consórcio com um investidor. A proposta é que na nova licitação haja uma lógica inversa da que vigora desde 2013: em vez de a operadora ganhar a concessão, tornando-se “dona” do estádio e então alugando-o aos clubes, estes seriam os concessionários, e contratariam uma empresa especializada em operar os eventos.

— Se Fla e Flu entram consorciados com uma empresa e depois essa empresa não se mantém, ou não consegue operar o estádio, os clubes não podem substituí-la. Queremos nos candidatar dando garantias ao estado de que contrataremos uma companhia com capacidade de operar e ajudar a manter o estádio — afirma o diretor-geral do Flamengo, Fred Luz. — Não é postura de pressionar o governo, é por acreditarmos ser a forma de dar sustentabilidade ao Maracanã. Num estádio de manutenção tão cara, ter mais um ente a dividir os lucros, como ocorre hoje, inviabiliza ainda mais. Os clubes têm um projeto de viabilidade do Maracanã, é possível cortar custos e aumentar as receitas. É viável.

FECHADO POR 50 MESES DESDE 2005

A Federação de Futebol do Rio (Ferj) também tem interesse, mas num outro modelo. Vendo seu principal ativo, o Campeonato Carioca, se desvalorizar nos últimos anos, a Ferj tem buscado investidores interessados em assumir a concessão e apostar em seu know-how para contratá-la como operadora dos jogos.

“A Ferj aguarda a decisão do governo. O tema desperta preocupação, pois o Maracanã é patrimônio do futebol carioca” diz o presidente Rubens Lopes, em nota.

Os sucessivos afastamentos do Maracanã têm sido sacrificantes para o torcedor carioca. De janeiro de 2005, ano do início das obras do Pan, até a metade de 2016, transcorreram 138 meses, e o estádio esteve fechados aos clubes do Rio em nada menos que 50 deles (36% do total), seja para reformas ou para os eventos em si.

Até por isso, há urgência na prevenção de um problema que se avizinha, provavelmente antes de o impasse maior ser resolvido. A Rio-2016 devolverá o estádio em 30 de outubro, e Fla e Flu ainda terão, somados, cinco jogos como mandantes no Brasileiro. O rubro-negro se dispõe a operar estes jogos numa solução provisória, mas o governo não vê necessidade.

— Se ainda não estiver definida a manutenção ou rescisão da concessão atual, a Maracanã S. A. reassumirá o estádio e fará os jogos. O contrato está em vigor — diz Leonardo Espíndola.


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