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Mostra reúne peças, roteiros e objetos pessoais de Luiz Sergio Person

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Diretor de títulos cultuados do cinema brasileiro como “O caso dos irmãos Naves’’ (1967) e “São Paulo S/A’’ (1965), Luiz Sergio Person (1936-1976) é tema de uma exposição no Itaú Cultural, em São Paulo, que reúne cerca de 350 objetos de seu acervo pessoal, entre documentos, livros, revistas, cartas, planos de filmagem, roteiros inacabados, peças de teatro, trechos de filmes e muitas fotos de trabalho e de sua rotina pessoal. A “Ocupação Person’’, que abre ao público hoje e fica em cartaz até 3 de abril, marca os 40 anos de morte e 80 anos de nascimento do artista.

— E pensar que eu quase joguei tudo isso fora — diz a viúva de Person, a documentarista Regina Jehá, que dividiu a curadoria da mostra com suas duas filhas, Domingas e Marina.

Ela está debruçada sobre uma das mesas no espaço expositivo onde foram distribuídos vários documentos do marido, inclusive um passaporte com inscrições em francês.

— Em dezembro de 1968, quando o AI-5 (Ato Institucional número 5) foi decretado, viajamos pelo Leste Europeu. Com os passaportes que a gente tinha, cheios de carimbos dos países comunistas pelos quais passamos, íamos para a cadeia assim que chegássemos. Então, achamos melhor jogá-los fora e dizer na embaixada da França que os havíamos perdido. Esse foi o passaporte substituto.

Além de pequenas histórias como essa, a exposição revela um pouco do processo criativo de Person e uma parte de sua produção menos conhecida como dramaturgo na década de 1970, com montagens de peças para o Auditório Augusta, fundado em 1973 por ele e Glauco Mirko Laurelli. Um dos destaques está no roteiro e no plano de filmagem de “O caso dos irmãos Naves’’, que reconstitui um fato ocorrido em Araguari, no interior de Minas Gerais, durante o Estado Novo, quando dois irmãos foram presos e torturados para confessar um crime que não cometeram. Raul Cortez e Juca de Oliveira, que dá seu depoimento sobre o trabalho em vídeo, faziam os papéis principais.

— “O caso dos irmãos Naves’’ era para ser o primeiro filme de uma trilogia sobre a violência, que seria seguido por uma adaptação de “A hora dos ruminantes’’, romance do J.J. Veiga, e por um filme sobre o cerco à cidade de Natal, nos anos 1930, pela Coluna Prestes — explica Regina, tendo nas mãos um exemplar do roteiro adaptado da obra de Veiga.

O Itaú Cultural produziu um libreto com textos sobre Person, entre os quais duas “críticas’’ ao que teria sido o filme, assinadas pelos escritores Lourenço Mutarelli e Noemi Jaffe, baseadas na leitura do script nunca filmado.

Textos nunca encenados

Outro eixo é a produção de Person para o teatro. Entre os textos que traduziu e adaptou para o palco estão “Entre quatro paredes’’, de Jean-Paul Sartre, e “Trotski no exílio’’, de Peter Weis. Este último nunca foi encenado, depois de ter sido censurado em 1975. Além das peças, repletas de anotações, a mostra traz uma carta escrita pelo artista ao Departamento de Censura Federal em Brasília, na qual ele expunha o ridículo da proibição por se tratar de um texto crítico ao regime comunista e proibido nos países que faziam parte do bloco soviético.

— Ele era corajoso, mas isso não significa que não tivesse medo — ressalta a viúva de Person.

A exposição se completa com o eixo dedicado à vida pessoal do cineasta. Um dos painéis reúne fotos do casamento com Regina, dos passeios com as filhas Domingas e Marina, das brincadeiras no sítio da família no interior paulista.

— O Person era inquieto e não era muito fácil de se conviver, mas eu também dei trabalho para ele — diz Regina, bem-humorada. — Mas ele era apaixonado pela família.


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