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Fontes hidrotermais nos oceanos são mais importantes do que se pensava

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RIO – Outrora consideradas curiosidades geológicas e biológicas, as fontes hidrotermais e de metano do fundo dos oceanos são mais comuns do que se pensava, desempenhando importantes papéis para o equilíbrio do planeta, o desenvolvimento da vida marinha e a regulação do clima global, mostra estudo publicado no periódico científico “Frontiers in Marine Science”. Encontrados pela primeira vez por cientistas da Universidade do Estado do Oregon, EUA, no leito marinho há cerca de 40 anos, estes estranhos e isolados habitats surpreenderam a comunidade científica. Neles, vazamentos de gases e “chaminés” de compostos de enxofre, também conhecidas como fumarolas, sustentam bizarros vermes marinhos, caranguejos e mariscos gigantes que depois de se descobriu se alimentarem de metano e sulfetos tóxicos para outras formas de vida.

– Ficou imediatamente aparente que estas fontes hidrotermais eram incrivelmente legais – lembra Andrew Thurber, professor da Faculdade de Ciências da Terra, Atmosféricas e Oceânicas da Universidade do Estado do Oregon e coautor do estudo. – Desde então, aprendemos que estas fumarolas e vazamentos são muito mais do que uma fauna estranha, uma biologia única e estranhos pequenos ecossistemas. Ao contrário de uma anomalia, eles são prevalentes no mundo inteiro, tanto nas profundezas oceânicas quanto em áreas mais rasas. Eles fornecem estimados 13% da energia que chega ao fundo do mar, possibilitam a existência de uma ampla gama de vida marinha e são jogadores importantes no clima global.

Como fontes para a vida marinha, as fumarolas expelem gases e minerais, incluindo sulfatos, metano, hidrogênio e também ferro, um dos nutrientes que limitam o crescimento do plâncton em grandes áreas do oceano, como na atual “maré vermelha” que está provocando um desastre ambiental na costa do Chile. Mas, num papel ainda mais importante, as formas de vida nestes locais consomem 90% do metano liberado, impedindo que atinja a atmosfera, onde como gás do efeito estufa é 25 vezes mais potente que o dióxido de carbono (CO2).

– Não tínhamos ideia do quão importante era este processo ecológico para o clima global – conta Thurber. – Por meio do consumo de metano, estas formas de vida estão literalmente salvando o planeta. Há mais metano no leito oceânico do que todas as outras formas de combustíveis fósseis nos oceanos, e se todo ele fosse liberado teríamos um evento climático apocalíptico.

As fontes hidrotermais e de metano, e a vida marinha que as habita, criam formações qie podem durar dezenas de milhares de anos. Elas abrigam numerosas camadas de mariscos e outros moluscos e montanhas de camarões e caranguejos que fornecem um ambiente ideal para o desenvolvimento de cardumes de peixes e literalmente fertilizam os oceanos, com um impacto que vai muito além das áreas que ocupam.

Estes sistemas, no entanto, já estão sendo danificados pela ação humana, como a mineração submarina, a pesca de arrasto e a geração de energia. Esforços já estão sendo conduzidos para extrair cobre, zinco, chumbo, prata e mesmo ouro em depósitos nestas áreas, assim como para exploração de óleo, gás e hidratos de metano nelas. Isso sem contar o despejo de lixo, muitas vezes tóxico, nos mares, além da pesca de baleias e o desmatamento que interferem no fluxo de matéria orgânica para o fundo do oceano.

No estudo, assinado por um grupo de dezenas de pesquisadores de 14 instituições internacionais dedicadas à pesquisa oceânica, os cientistas fizeram uma revisão de tudo que se aprendeu sobre estes bizarros ecossistemas nos últimos 40 anos e destacam que ainda há muito mais a ser compreendido. Alguns micro-organismos encontrados nesses ambientes estão sendo avaliados por seu potencial para “limpar” vazamentos de petróleo ou para agirem como agentes catalisadores em processos de captura de dióxido de carbono da atmosfera.


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