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Incertezas provocadas pela Lava-Jato levaram BC a manter os juros básicos

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BRASÍLIA – O Banco Central alertou o governo para que não abandone o ajuste fiscal e que faça as reformas estruturais necessárias para resolver a crise das contas públicas mesmo no turbulento ambiente atual. E, justamente por causa das incertezas políticas provocadas pela Operação Lava-Jato, o Comitê de Política Monetária (Copom) resolveu manter os juros básicos estáveis e indicou que não deve mexer na política de controle da inflação tão cedo. Apesar da resistência do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — agravada pela alta dos impostos que aumenta o custo das empresas — a ata da reunião do colegiado, divulgada na manhã desta quinta-feira, mantém a promessa de levar a inflação para a meta no ano que vem.

“A maioria dos membros do Copom considerou que as incertezas domésticas e, principalmente, externas, justificam continuar monitorando a evolução do cenário macroeconômico para, então, definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária. Para estes membros, faz-se necessário continuar acompanhando o desenvolvimento nos ambientes doméstico e externo e seus impactos sobre o balanço de riscos para a inflação, o que, combinado com os ajustes já implementados na política monetária, pode fortalecer o cenário de convergência da inflação para a meta de 4,5%, em 2017”, indicou o Copom no documento com detalhes da reunião da semana passada.

Mantida a promessa no papel, mas com alerta de que as previsões mostram o contrário. O Banco Central admitiu que nos exercícios dos técnicos, a projeção para a inflação subiu —tanto para este ano, quanto para o ano que vem — e estão acima da meta de 4,5%. O Copom não divulga os números nas atas. Apenas, no relatório trimestral de inflação, que será publicado no fim do mês, são reveladas as expectativas da autoridade monetária.

No documento, o BC limita-se a dizer que o efeito desinflacionário da crise deve ser maior que o previsto antes. E o cenário internacional continua “especialmente complexo”, principalmente por causa da desaceleração da economia chinesa.

Um dos refrescos para o trabalho do Banco Central é a queda da projeção para a inflação das tarifas públicas — a principal vilã da alta de preços do ano passado — de 6,3% para 5,9% em 2016 por causa da expectativa de queda da energia elétrica. A estimativa já leva em consideração uma alta de 9,9% da passagem de ônibus.

O Copom insistiu que precisa da ajuda do Ministério da Fazenda para controlar a inflação. Reforçou a necessidade de um ajuste das contas públicas. E incluiu no seu texto um aviso:

“Ressalta-se a importância de se preservar na promoção de reformas estruturais de forma a assegurar a consolidação fiscal em prazos mais longos”.

Depois de o IBGE admitir que um dos freios da atividade econômica e de inflação foi o peso dos impostos, o BC incluiu na ata um trecho sobre o assunto. Disse que a persistência da alta de preços não vem apenas da alta do dólar ou das tarifas públicas, mas também da elevação de tributos.

“O Copom considera que o ainda elevado patamar da inflação é reflexo dos processos de ajustes de preços relativos ocorridos em 2015, bem como do processo de recomposição de receitas tributárias observado nos níveis federal e estadual, no início deste ano, e que fazem com que a inflação mostre resistência. Ao tempo em que reconhece que esses processos têm impactos diretos sobre a inflação, o Comitê reafirma sua visão de que a política monetária pode, deve e está contendo os efeitos de segunda ordem deles decorrentes”.

Atualmente a inflação oficial acumula uma alta de 10,36% nos últimos 12 meses (muito acima do teto da meta de 6,5% para este ano). Por isso, dos oito diretores, dois votaram por um aumento de 0,5 ponto percentual. Sidney Corrêa Marques (Sistema Financeiro) e Tony Volpon (Relações Internacionais) mantém esse voto desde o fim do ano passado. Eles querem ancorar as expectativas, ou seja, fazer com que a previsão dos analistas _ que estão em 7,59% para este ano e em 6% para 2017 _ fiquem na meta.

No entanto, a maioria optou por manter a taxa básica de juros (Selic) em 14,25% ao ano. No início do ano, o Copom até sinalizou que apertaria a política monetária. Apenas um dia antes da reunião do colegiado em janeiro, o presidente do BC, Alexandre Tombini, soltou um comunicado nada convencional para comentar previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI). Era um pretexto para avisar que o plano de voo tinha mudado e que não haveria alta dos juros.

Hoje, a visão da maioria da cúpula do BC é no caminho oposto: cortar os juros porque a crise e o desemprego vão se encarregar de frear a inflação. A taxa básica cairá, entretanto, somente quando as expectativas estiverem ancoradas.


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