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BC: é cedo para falar em queda de juros, apesar de trégua na inflação

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BRASÍLIA – O Banco Central reforçou sinais de que ainda é cedo para falar em queda dos juros, apesar da trégua dada pela inflação. Na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada — publicada nesta quinta-feira — os diretores argumentam que a alta de preços perdeu força por causa da recessão, mas citaram novos riscos para o controle inflacionário. Mais uma vez, a maior surpresa negativa em vem do descontrole das contas públicas. Por isso, a diretoria descarta afrouxar a política de juros do país e prevê a manutenção da taxa básica (Selic) nos atuais 14,25% ao ano.

“O Comitê reconhece os avanços na política de combate à inflação, em especial a contenção dos efeitos de segunda ordem dos ajustes de preços relativos. No entanto, considera que o nível elevado da inflação em doze meses e as expectativas de inflação distantes dos objetivos do regime de metas não oferecem espaço para flexibilização da política monetária”, diz o documento, que chega até a ser mais incisivo em outro trecho:

“Nesse contexto, ressalta que o cenário atual não permite trabalhar com a hipótese de flexibilização das condições monetárias”.

O BC alertou que — mesmo com a crise — os gastos públicos voltaram a colocar combustível na inflação. Até o mês passado, o Copom dizia que as despesas do governo estariam neutras, ou seja, não incentivavam e nem freavam a alta de preços. E ainda afirmava que a tendência era que a crise fiscal restringiria ainda mais os gastos que, deprimidos, passariam a contribuir para a queda da inflação. O discurso, agora, mudou radicalmente:

“Relativamente ao resultado fiscal estrutural e a depender do ciclo econômico, o comitê pondera que o balanço do setor público encontra-se em zona expansionistas. O comitê ressalta que que indefinições e alterações significativas na trajetória de geração de resultados primários, bem como na sua composição, impactam as hipóteses de trabalho contempladas nas projeções de inflação e contribuem para acentuar a percepção negativa sobre o ambiente macroeconômico, além de impactarem negativamente as expectativas de inflação”, afirma a ata.

Isso tudo porque o Banco Central foi obrigado a deixar de trabalhar com a ideia de uma economia para pagar juros da dívida (o chamado superávit primário) de 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB). O BC admitiu os parâmetros da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de um déficit primário de 1,6% do PIB neste ano e de 0,9% do PIB para o ano que vem.

Na semana passada, o BC manteve, pela sexta vez seguida, a Selic no patamar atual. E informou que houve avanços no combate à inflação, mas alegou que considera que os níveis ainda são altos para flexibilização da política monetária.

Nos últimos 12 meses, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) está em 9,39%, ainda longe do teto da meta de 6,5%. Em 2015, porém, o IPCA foi de 10,67%.

Mesmo nesse cenário de queda da inflação, persistem riscos para o controle de preços. A previsão para a inflação das tarifas de serviços públicos, por exemplo, aumentou de 5,9% para 6,8% neste ano por causa do reajuste das taxas de água e esgoto e dos medicamentos. Foram os preços administrados, juntamente com o dólar, os grandes vilões da inflação do ano passado.

Apesar dessas revisões, nos exercícios feitos pelos técnicos do BC com juros e dólar estáveis, as perspectivas são boas. A projeção para a inflação caiu tanto para este ano quanto para 2017. Segundo a ata, essa estimativa para o ano que vem, já estaria bem próxima à meta de 4,5%, uma das promessas do Banco Central. A autarquia não divulga os valores dessas expectativas a não ser no relatório trimestral de inflação.

Essas perspectivas melhores fizeram a votação pela manutenção dos juros ser unânime, fato inédito neste ano. Desde o fim do ano passado, dois diretores votavam pelo aumento da taxa básica de juros. Agora, eles reconheceram não ser mais necessário para conter os preços.

A recessão econômica fará o serviço do BC. Sinais de uma recessão mais grave estão distribuídos pela ata do Copom. No documento, a cúpula do Banco Central revisou o cenário para o crédito, por exemplo. Em vez de uma “expansão moderada”, substituiu a previsão por “moderação” neste ano.

Essa pode ter sido a última reunião do Copom comandada pela atual diretoria. Se o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff for aprovado, a equipe econômica deve ser mudada.


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